Por motivos óbvios, 2016 foi um ano inesquecível para a natação. E um desses motivos óbvios responde pelo nome de Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Nas águas, foi realmente uma Olimpíada memorável (tirando a água verde da piscina de saltos do Parque Aquático Maria Lenk). Mas, daqui alguns anos, objetivamente falando, do que realmente nos lembraremos quando nos recordarmos desse ano que termina na natação? Listamos 16 motivos, em homenagem a 2016, simbolicamente um para cada ano do milênio, todos relacionados ao nosso esporte – para o bem e para o mal.
1 – Katie Ledecky bate o recorde mundial dos 800m livre sem polir
Em pleno dia 17 de janeiro, ninguém no mundo está descansado ou polido. Principalmente em um ano olímpico, em que os atletas se preparam para as seletivas olímpicas de seus países. Mas isso não pareceu importar muito a americana Katie Ledecky. Nadando a etapa do Grand Prix americano em Austin, no Texas, ela já vinha fazendo uma excelente competição, com melhores marcas pessoas nos 100m e 200m livre. Mas foi em sua principal prova que aconteceu o assombro. O recorde mundial dos 800m livre era dificílimo, 8min07s39, do Mundial de Kazan em 2015 – de fato, foi considerada a marca mais forte pela FINA e pelos especialistas de todo o ano. Em Austin, ela passou a parcial dos 400m com 4min03s22, exatamente a mesma do recorde. Pressentindo algo especial, a plateia se levantou, gritou e incentivou. Resultado: 8min06s68, seu quarto recorde mundial na prova. De se notar que o recorde mundial era 8min14s10 antes de seu aparecimento. Levou 21 anos para as mulheres baixarem tanto na prova, de 1987 a 2008. E Ledecky fez isso no espaço de menos de dois anos e meio. Mais impressionante, sem estar no auge da forma. Era de se esperar algo ainda mais inacreditável na Rio-2016…
2 – Cameron McEvoy raspa no recorde mundial dos 100m livre
O nome do australiano Cameron McEvoy não era estranho para a comunidade aquática. Medalhista mundial, campeão pan-pacífico… Esse ano vinha fazendo bons tempos sem polir, incluindo sua melhor marca de 47s56 nos 100m livre, o que indicava que ele manteria sua evolução constante desde que surgiu para o mundo, em 2013, aos 19 anos. O que poucos esperavam é que ele mostrasse um salto fenomenal nessa evolução. Na Seletiva Olímpica Australiana, em abril, era o favorito nos 100m livre, mesmo tendo ao seu lado o vice-campeão olímpico James Magnussen. Resultado: 47s04, recorde australiano e terceiro melhor tempo da história, apenas 13 centésimos do recorde mundial de Cesar Cielo de 2009. É a melhor marca obtida sem trajes tecnológicos. Em 2012, Magnussen passou por situação parecida, ao marcar 47s10 na mesma competição. Chegou na Olimpíada de Londres favorito e ficou com uma frustrante (para ele) medalha de prata. A maldição se repetiu com McEvoy. Esteve doente na Olimpíada do Rio e sequer subiu no pódio de sua especialidade. Menos mal que o ouro foi para outro australiano, Kyle Chalmers. Mas com um tempo (47s58) quase meio segundo que a inesquecível performance de McEvoy de abril.
3 – O mais forte 100m peito do mundo no Troféu Maria Lenk
O Brasil se acostumou a ver uma dança das cadeiras pelas vagas dos 100m peito nas últimas seletivas olímpicas. É assim desde 2008. Dessa vez, todas as expectativas foram superadas. Durante o Troféu Maria Lenk, em abril, logo nas eliminatórias do primeiro dia, João Gomes Junior mandou 59s06, melhorando praticamente um segundo (eu disse um segundo!) de sua melhor marca pessoal. Era o segundo melhor tempo do mundo. A segunda vaga do país ficou para Felipe França, com 59s36. Outros três nadadores fizeram índice olímpico, entre eles Pedro Cardona, também abaixo do minuto. Felipe Lima, bronze na prova no Mundial de Barcelona, em 2013, ficou sem vaga, atestando o altíssimo nível da prova. Até aquele momento, com seletivas australiana, britânica, francesa, japonesa, chinesa e outras já tendo acontecido, o Brasil havia tido o mais forte 100m peito do mundo. O que foi atestado na Olimpíada do Rio de Janeiro, em que João Gomes e Felipe França alcançaram a final – além do Brasil, apenas os Estados Unidos colocaram dois nadadores entre os oito melhores. O pódio não saiu por pouco, mas, a julgar pela evolução, não tardará para o país ter uma medalha no estilo em Olimpíadas. Ou até mais.
4 – Cesar Cielo não obtém classificação olímpica
O silêncio no Estádio Aquático Olímpico naquela tarde de 20 de abril era tão denso que podia ser cortado com uma faca. A expectativa era grande para a final dos 50m livre no Troféu Maria Lenk, prova que definiria as duas vagas brasileiras olímpicas. Os favoritos eram Bruno Fratus e Cesar Cielo. Este último, campeão olímpico e tricampeão mundial da prova, estava bem cotado em todas as apostas pelo seu passado, e não pelo que vinha apresentando até então. Entre muitas trocas de técnicos e uma lesão no ombro, não nadou bem o Mundial de 2015 e tentava se recuperar a tempo. Não conseguiu. Com 21s91, teria conseguido vaga em qualquer seletiva olímpica que tinha ocorrido até então. Mas Fratus, com 21s74, e Ítalo Duarte, com 21s82, foram mais rápidos. A comoção gerada foi grande. Não ter o único campeão olímpico da história da natação brasileira na Olimpíada caseira não era algo previsto. Uma Olimpíada que Cielo ajudou a trazer em 2009. As homenagens a ele foram muitas. Sua classificação fazia parte do script de quase todos, mas, de certa forma, talvez sua derrota tenha mostrado de forma mais contundente sua importância para a natação brasileira.
5 – Cate Campbell voa a um mês da Olimpíada
Desde 2013, a australiana Cate Cambpell vinha se firmando como o principal nome da velocidade nas provas femininas. Não era absoluta, tanto que perdeu os 50m e 100m livre para a irmã Bronte no Mundial de 2015. Mas era a mais regular. Depois de uma excelente seletiva olímpica australiana, fez o que não se esperava a um mês dos Jogos Olímpicos: bateu seu primeiro recorde mundial individual, nos 100m livre. No Grand Prix australiano em Brisbane, fez 52s06 e superou por um centésimo a marca da alemã Britta Steffen, que vinha desde 2009, auge da era dos trajes tecnológicos. O recorde foi tão inesperado que não há vídeo disponível da prova. A expectativa que se criou sobre o desempenho de Campbell foi de um incrível sub-52s olímpico. Mas, após seu recorde, ela disse: “tem uma frase que uma vez ouvi e que gosto muito: ‘ uma medalha de ouro é uma coisa maravilhosa, mas se você não está feliz sem ela, não estará feliz com ela.’ O ouro olímpico seria a cereja no bolo para mim, mas preciso estar preparada para se não acontecer.” Foi profética: no Rio de Janeiro, não só não venceu como saiu sem medalhas individuais. Após os Jogos, disse que sofreu com uma hérnia e passou por cirurgia. Encerra o ano sem o ouro olímpico, mas com o status de mais veloz mulher que já percorreu os 100m livre.
6 – Adam Peaty sem limites
Nadar para 57s nos 100m peito em piscina de 50 metros é algo absurdo certo? Tanto que só um homem havia conseguido, para 57s92, e era meio segundo mais rápido que qualquer outro nadador na história da prova. Pois imagine o mesmo homem abaixar a mesma marca por quase um segundo e por pouco não nadar para 56s. Foi exatamente o que fez o britânico Adam Peaty nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, dando a impressão do impossível estar acontecendo. Com 57s13, chegou um segundo e meio à frente do medalhista de prata – a maior margem de vitória na história olímpica até então era de meio segundo, na Olimpíada de 1972. Seu tempo nos primeiros 50 metros de 26s61 quase superou o recorde mundial dos 50m peito (26s42) e sua parcial de volta também foi a melhor de todos os competidores. Outro assombro veio no revezamento 4x100m medley, com sua parcial de 56s59, que garantiu a prata para sua equipe. Para se ter uma ideia do que a marca representa, se qualquer uma das seis equipes finalistas que terminou atrás da Grã-Bretanha pudesse trocar seu nadador de peito com os britânicos, essa equipe terminaria no mínimo com a medalha de prata – os australianos seriam ouro. Peaty já demonstrou desejo de nadar para 56s na prova individual. Mas mesmo que nunca mais consiga chegar perto de seu 57s13, já entrou para a história.
7 – Michael Phelps vence os 200m borboleta
Tudo bem que Michael Phelps tornou-se o primeiro tetracampeão individual da natação olímpica nos 200m medley, e em revezamentos no 4x200m livre (ao lado de Ryan Lochte). Que foi peça chave no revezamento 4x100m livre que deu o ouro aos Estados Unidos em uma prova em que a equipe não era favorita – fez a melhor marca de sua vida na prova. E que a vitória do 4x100m medley representou o canto do cisne de uma carreira de 28 medalhas olímpicas em uma despedida emocionante. Mas seu primeiro ouro individual no Rio de Janeiro, nos 200m borboleta, foi o mais marcante. Primeiro nadador finalista olímpico por cinco vezes em uma mesma prova, Phelps buscava outro feito jamais igualado na natação: vencer uma prova olímpica individual após ter perdido na Olimpíada anterior. Esperava-se que o duelo seria entre o sul-africano Chad le Clos, que justamente bateu o americano em 2012, e o húngaro Laszlo Cseh, atual campeão mundial e que esse ano fez o melhor tempo do mundo na prova desde a era dos trajes tecnológicos em 2009. Phelps liderou de ponta a ponta, mas venceu apertado por quatro centésimos sobre o japonês Masato Sakai, a vitória mais estreita da história olímpica na prova. Ouro muito comemorado por Phelps, que subiu na raia e apontou para si próprio como se dissesse “eu sou o cara.” Naquele momento, mais do que nunca, o mundo inteiro sabia disso.
8 – Penny Oleksiak e Simone Manuel vencem os 100m livre olímpico
Como já descrito anteriormente, a favorita absoluta ao ouro olímpico dos 100m livre era a australiana Cate Campbell. Faltou avisar a canadense Penny Oleksiak e a americana Simone Manuel. Oleksiak, 16 anos, já vinha sendo destaque com seus excelentes tempos e rápida evolução. Já havia nadado bem os 100m borboleta, prova na qual foi prata. Já Manuel dificilmente era cotada para o pódio, pois jamais havia nadado para 52s, necessário para medalha, e estava balizada apenas com o nono melhor tempo. De qualquer forma, ninguém apostava em nenhuma das duas para o ouro. Mas Oleksiak e Manuel a deixaram para trás Campbell e também outras nadadoras mais favoritas, como a sueca Sarah Sjostrom e a australiana Bronte Campbell, campeã mundial da prova. O empate em 52s70 não é inédito – também houve empate no alto do pódio da prova em 1984. Mas ganhou as manchetes, principalmente pelo desfecho inesperado de duas nadadoras pouco cotadas para o pódio vencerem a prova. Manuel é a primeira negra campeã olímpica individual na natação. Oleksiak, com sua marca, bateu o recorde mundial júnior. E Cate Campbell poderia muito bem ter lutado pelo ouro, já que fez 52s71 na semifinal e fechou o 4x100m livre para 51s80, mas escolheu justo a final dos 100m livre para ter a pior prova de sua Olimpíada.
9 – Katie Ledecky torna-se a maior fundista da história
Por tudo que fez no período do último ciclo olímpico, bastaria Katie Ledecky vencer os 400m e 800m livre nos Jogos Olímpicos para pleitear o posto de maior nadadora de provas de fundo de todos os tempos. Afinal, já teria tantos ouros olímpicos quanto sua compatriota Janet Evans, considerada até então a rainha de provas de longas distância da história, e já tinha mais recordes e títulos mundiais. Mas o que Ledecky fez no Rio de Janeiro foi muito além disso. Primeiro, abaixou simplesmente dois segundos de seu recorde mundial nos 400m livre de 2014 com 3min56s46. Depois, em sua prova mais difícil, venceu os 200m livre. Para finalizar, em sua melhor prova, os 800m livre, mostrou que está muito a frente de seu tempo: com 8min04s79, melhorou dois segundos do recorde mundial estabelecido em janeiro. Chegou nada menos que 11 segundos à frente da medalhista de prata. A marca é mais de nove segundos mais rápida que a segunda nadadora mais rápida da história. Pode-se ficar por muito tempo elencando os absurdos dessa sua marca nos 800m livre. No final das contas, mais um ouro e uma prata em revezamentos. Aos 19 anos, ela tem seis medalhas olímpicas (cinco de ouro), nove em mundiais (todas de ouro) e 13 recordes mundiais. Jamais perdeu uma prova, de 200m a 1500m livre, em grandes competições internacionais. Ainda tem uma longa carreira pela frente, mas se se aposentasse hoje, já estaria no topo da história da natação de fundo.
10 – Anthony Ervin consagra-se como o mais velho nadador vencedor olímpico
Pouca gente colocava suas fichas no americano Anthony Ervin. Até a classificação olímpica para os 50m livre foi tida como surpresa por muitos. Por que as dúvidas? Afinal, trata-se de um campeão olímpico individual, em Sydney 2000. O fato é que desde 2014 Ervin não vinha sendo páreo para a concorrência. Após voltar de uma aposentadoria de quase uma década em 2011, logo se recolocou entre os grandes e foi finalista olímpico em 2012 e mundial em 2013. Mas a partir do Pan-Pacífico de 2014 não apresentava mais evolução. No período de um ano e meio antes da Olimpíada, trocou de técnico duas vezes, sendo a última dela a três meses dos Jogos. Parecia sem rumo. Mas conseguiu acertar sua principal deficiência, a saída. Na Olimpíada, superou o favorito Florent Manaudou, da França, por apenas um centésimo, com 21s40. Está certo, se Manaudou tivesse feito sua marca de 2015, teria levado o ouro. Mas também teriam vencido a prova Nathan Adrian e Bruno Fratus, que também fizeram abaixo do tempo de Ervin no ano anterior. Nada disso importa. Ervin mostrou que tem estrela e não só aos 35 anos tornou-se o nadador campeão olímpico mais velho da história como também é o nadador com maior intervalo de tempo entre duas vitórias: 16 anos. E já planeja estar de volta em 2020.
11 – Joseph Schooling vence os 100m borboleta. E os três favoritos ficam com a prata
Praticamente todas as apostas indicavam os nomes de Michael Phelps, Laszlo Cseh e Chad le Clos para o pódio dos 100m borboleta, com a ordem variando de acordo com o gosto do freguês. Afinal foram os três nadadores mais rápidos no período de um ano que antecedeu a Olimpíada. Além deles, somente um nadador havia completado a prova abaixo dos 51 segundos no período: Joseph Schooling, de Cingapura. Um nome emergente, bronze no Mundial de 2015, que sob o comando de Eddie Reese na Universidade do Texas vinha em plena ascensão. Mesmo assim não era suficiente para colocá-lo entre os favoritos. Trabalhando em silêncio, chegou ao Rio no auge da forma – o contrário de Phelps, le Clos e Cseh, que não vinham fazendo suas melhores marcas em suas provas. Na semifinal, foi o único a nadar abaixo dos 51s, o que ocorreu também na final em uma prova espetacular: melhor parcial de ida e melhor parcial de volta, recorde olímpico de 50s39 e melhor marca da história sem trajes tecnológicos. A margem de vitória foi de 75 centésimos. A superioridade foi até surpreendente em uma prova de velocidade, ainda mais os 100m borboleta que costuma ter chegadas apertadíssimas – é só lembrar da diferença de apenas um centésimo entre ouro e prata em 1988 e 2008, de três centésimos em 1992 e de quatro em 2004. Surpreendente também foi o resultado do segundo lugar: empate ente os favoritos prévios Phelps, Cseh e le Clos. Primeiro empate triplo no pódio na história da natação olímpica. Até quando perde Phelps faz história.
12 – O vexame de Ryan Lochte
Esse é um momento que poderia estar nos mais marcantes do esporte como um todo em 2016, e não só da natação. Afinal, não teve ligação com o esporte. Mas por se tratar de um dos maiores nadadores da história, figura nesta lista. Tudo começou quando, após o término das provas de natação olímpicas, ele e outros três nadadores, Jimmy Feigen, Gunnar Bentz e Jack Conger, foram para uma festa no Rio de Janeiro. No dia seguinte, Lochte deu entrevistas dizendo que foi assaltado quando voltavam para a Vila Olímpica. Nos dias seguintes, várias inconsistências foram apontadas, e descobriu-se que ele inventou o assalto para encobrir um ato de vandalismo num posto de gasolina, de onde os atletas teriam sido impedidos de sair por um segurança, para que pagassem pelo prejuízo. Seja qual tenha sido o motivo de Lochte para inventar a história, o nadador teve sua imagem colocada lá para baixo. Outrora o segundo nadador mais bem pago do mundo atrás apenas de Michael Phelps e um dos mais vitoriosos da história, perdeu patrocínios e foi suspenso pela Federação Americana, não podendo nadar o Mundial de 2017. Houve uma época em que Lochte era tido como um dos rostos mais comerciais da natação. Na piscina, conquistou uma medalha no Rio de Janeiro e foi a 12 na história olímpica, tornando-se o segundo nadador com maior número de pódios na história, atrás apenas de Michael Phelps. Mas foi uma Olimpíada ruim para quem conquistou quatro medalhas em 2008 e cinco em 2012. Pior ainda fora dela. Para o grande público, Lochte foi o vilão dos Jogos do Rio de Janeiro.
13 – Poliana Okimoto é bronze na maratona aquática olímpica
Desde 1980, o Brasil só saiu sem medalhas das águas olímpicas em duas edições de Jogos Olímpicos. Com a Olimpíada do Rio de Janeiro, a conta sobe para três, em dez Olimpíadas. Isso se contabilizarmos somente provas de piscina. Pois, graças a Poliana Okimoto na prova de 10 km em águas abertas, a natação brasileira pôde comemorar uma conquista em sua Olimpíada. Maratonista consagrada, Poliana já havia subido ao pódio de todas as grandes competições de nível mundial – exceto os Jogos Olímpicos. Após frustrações em 2008 e 2012, chegou ao Rio decidida a ter boas lembranças de sua terceira participação, conquistando ou não medalha. E ela teve os dois sabores: o do quarto lugar, logo ao término da prova, atrás da holandesa Sharon van Rouwendaal, da francesa Aurelie Muller e da italiana Rachele Bruni; e do bronze olímpico, ao saber, cerca de 20 minutos após o término da prova na praia de Copacabana, que a francesa havia sido desclassificada por obstruir a italiana na chegada. Medalha chorada em todos os sentidos, com Poliana não conseguindo controlar a emoção. É a primeira mulher brasileira a conseguir uma medalha na natação olímpica, uma espera que se iniciou com Maria Lenk na década de 30. Nenhum brasileiro conquistou medalha olímpica na natação com mais de 30 anos, outro feito inédito para a nadadora de 33 anos. E, assim como Raphaela Silva do judô e Diego Hypólito na ginástica, Poliana completa mais uma história de superação após passar pelo inferno do fracasso e das críticas olímpicas para dar a volta por cima.
14 – CBDA é alvo de denúncias
Tirando o óbvio período dos Jogos Olímpicos, a natação teve destaque de maneira eventual no noticiário de massa em 2016. Tomemos como exemplo o Jornal Nacional da Rede Globo. Veiculou notícias da natação quando Cesar Cielo não se classificou para a Olimpíada, quando Michael Phelps obteve a classificação… e nada muito mais além disso (não estamos contabilizando reportagens especiais, como a que contava a história de Thiago Pereira ou a que detalhava a estrutura da natação americana). Por isso, quando a CBDA é assunto no telejornal mais assistido do país, é porque algo importante aconteceu. Infelizmente, importante não significa bom. Em setembro, toda a imprensa veiculou a denúncia do Ministério Público Federal, pedido afastamento do presidende Coaracy Nunes Filho e de outros dirigentes por suposta fraude em licitações de material esportivo. Dias depois, a CBDA organizou sua assembleia geral, com algumas decisões polêmicas. Em dezembro, Coaracy foi multado pelo Tribunal de Contas da União por aplicação indevida de verbas da Lei Agnelo/Piva em contrato com uma agência de turismo. No meio de todo esse furacão, e a natação? A CBDA chegou a divulgar o cancelamento dos campeonatos de categoria de verão, o que gerou uma enxurrada de críticas, para voltar atrás logo depois. Com a indefinição da renovação do patrocínio com o Correios, um número limitado de atletas foi/será convocado para as competições internacionais. Tudo isso fez com que a atual administração da CBDA ficasse com uma imagem extremamente negativa perante o público. Pelo que se vê, o chamado legado olímpico chegou ao fim muito antes do que se esperava. Em um ano de Olimpíada no Rio de Janeiro, a natação brasileira não merecia isso.
15 – Os números superlativos de Katinka Hosszu
Jamais se viu algo parecido na história da natação. Uma nadadora com velocidade e resistência, uma força mental fora do comum e ainda por cima talentosa. Essa é a húngara Katinka Hosszu. Após a Olimpíada de Londres, em 2012, a cada ano vem impressionando mais. Nadando um número absurdo de provas em muitas competições como forma de preparação, tem chegado às principais competições na ponta dos cascos. Foi o caso na Olimpíada do Rio de Janeiro: vitórias nos 100m e 200m costas e 400m medley e prata nos 200m costas. Ninguém subiu tanto no pódio olímpico individualmente como ela. Foi a cereja no bolo de uma saga que, pelo visto, ainda está longe de terminar. Na Copa do Mundo de piscina curta, chegou ao absurdo de nadar 14 de 17 provas individuais em uma etapa, e de conquistar 13 medalhas. Conseguiu se tornar recordista nacional húngara em piscina curta de todas – sim, de todas! – as provas femininas. Isso em um país tradicionalíssimo na natação. No Mundial de piscina curta, em Windsor, no Canadá, conquistou nove medalhas, todas individuais, recorde na história do evento. Consegue nadar em nível mundial dos 50m costas aos 800m livre, dos 100m aos 400m medley. Pode-se dizer que, em termos de qualidade, Katie Ledecky é a melhor nadadora do mundo. Mas, em quantidade, e também com grande qualidade, ninguém supera Katinka Hosszu.
16 – Etiene Medeiros é bicampeã mundial na curta
Todo o ciclo olímpico foi inesquecível para Etiene Medeiros, que vinha obtendo resultados inéditos para a natação feminina brasileira ano após ano. Mas 2016 certamente terá um lugar reservado em sua memória para sempre. O resultado analítico adverso em um exame antidoping, em maio, devido a um medicamento para asma, gerou apreensão na comunidade aquática brasileira. Foi absolvida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que avaliou que a nadadora não agiu de má-fé e não se beneficiou da situação. Mas, nesse período, como teria ficado sua cabeça às vésperas da Olimpíada? Começou sua participação nadando mal os 100m costas, prova em que é campeã pan-americana. Melhorou nos 100m livre, passando para a semifinal. Nos 50m livre, com uma saída espetacular, bateu o recorde sul-americano na semifinal e disputou a final da prova, encerrando de maneira gloriosa um período de montanha russa de emoções. Mas ainda havia história a se fazer. Em dezembro, no Mundial de curta, em Windsor, no Canadá, Etiene chegou para defender o título obtido há dois anos nos 50m costas. Não decepcionou, mostrou o perfeito domínio dos fundamentos que nos acostumamos a ver e conquistou o bicampeonato. Há alguns anos, se alguém dissesse que a única medalha olímpica do Brasil na natação seria feminina e o único ouro em um mundial seria obtido por uma mulher, talvez essa pessoa fosse internada. Talvez o futuro tenha chegado para as mulheres na natação brasileira.