A seletiva olímpica nacional de águas abertas para os Jogos de Tóquio-2020 esta se aproximando. No próximo dia 6 de março os melhores nadadores do país vão disputar duas vagas para a seletiva mundial que vai acontecer em Fukuoka, no final de maio. Trata-se do primeiro passo para a tão sonhada vaga olímpica que só poderá agraciar um nadador do país. E um deles conhece bem esse caminho: Allan do Carmo.
Aos 31 anos de idade, o atleta baiano nadará em casa no mês que vem de olho em sua terceira Olimpíada. Presente nas edições de Pequim-2008 e Rio-2016, Allan tem a seu favor a experiência de encarar os maiores eventos do mundo. Mas só isso não basta, o treinamento é algo essencial para o sucesso como ele mesmo ressaltou nesta entrevista especial a SWIM CHANNEL que você confere logo abaixo.
SWIM CHANNEL: Como estão seus treinos para a seletiva?
ALLAN DO CARMO: Os treinos foram bem legais e fizemos um trabalho de três semanas na altitude de Sierra Nevada. Já estou trabalhando com o Fernando Possenti há pouco mais de um ano e estou me adaptando aos treinos e programa dele. Nosso grupo lá tinha eu, Ana Marcela Cunha, Gabrielle Roncatto, Nathalia Almeida e todos os treinos foram bem legais com grande aproveitamento, além do ambiente como um todo ter sido ótimo. Isso tudo conta pra você ter uma qualidade de treino em equipe e é o que vai determinar para você tomar as melhores decisões.
SWIM CHANNEL: O que você acredita que mudou na modalidade desde sua primeira participação olímpica? Tanto nos atletas, como nos treinos e competições?
ALLAN: A modalidade mudou bastante desde 2008. Meu primeiro Mundial foi em Nápoles-2006 e minha primeira Olimpíada em Pequim-2008. A modalidade mudou bastante, já que houve uma evolução muito grande. A cada ciclo a gente tinha uma estrutura de prova, em 2008 era aquela estrutura onde se nadava muito. O pessoal se guardava e dava aquele tiro final. Já para os Jogos de Londres-2012 este tiro passou a ser dado a partir dos 5 km. Em 2016, chegou o Ferry Weertman com esse negócio de ficar lá atrás para no final, dar um tiro muito forte de novo e com uma intensidade muito maior nos últimos 1.000, 1.500 metros. Agora, nesse ciclo é uma prova muito intensa, o tempo todo. Ela começa muito tensa e termina num ritmo mais forte ainda. Então posso dizer que a cada ano as características vem mudando, assim como os atletas vem se renovando. Por ser um esporte muito novo e está em mudança o tempo todo.
SWIM CHANNEL: Como você vê o cenário brasileiro da maratona aquática masculina hoje?
ALLAN: Hoje se a gente for olhar pro lado internacional, iremos ver que a gente perdeu muito espaço, muita competitividade. E também vejo isso no cenário nacional. Acho que essa seletiva olímpica acabou sendo um marco, e acho que CBDA tem que tentar manter isso pois a gente não tem um campeonato brasileiro tão valorizado. Não temos aqui uma competição tão valorizada constantemente e eu acho que essas seletivas, inclusive através de vocês ai da SWIM CHANNEL, tá trazendo uma competitividade, uma vontade nos atletas de estarem brigando e elevando o nível de todos ao mesmo tempo. Tínhamos uma competitividade muito grande no último ciclo, comigo, Samuel de Bona, Diogo Villarinho, Luiz Rogério Arapiraca, a gente constantemente estava competindo um contra o outro. Tinha uma competitividade interna que fazia a gente crescer muito na parte internacional também. E a gente acabou perdendo um pouco isso neste último ciclo. Acho que a gente acabou perdendo um pouco dessa disputa, dessa rixa saudável, sabe? E acho que essa seletiva pode ser um marco pra trazer isso de volta. É uma seletiva, mas que pode abrir espaço para o próximo ciclo olímpico e dar mais competitividade visando 2024. Acredito que isso fará a maratona aquática masculina voltar a crescer, porque não estamos no patamar que merecemos.
SWIM CHANNEL: Na sua opinião, quão importante é a estratégia em relação a experiência e ao treino na hora prova? Sente que algum desses fatores pesa mais que outros?
ALLAN: Para a seletiva o mais importante é o treino. Você tem que estar treinado, estar confiante. Eu acho que a parte psicológica e a confiança é o que vai determinar para você tomar as melhores decisões, diferentemente de experiência ou não. Porque a gente tem vários exemplos de atletas muito experientes, bem-sucedidos e tem atletas que nadaram poucas vezes e foram bem-sucedidos também. Como a gente tem o Oussama Mellouli que nadou três provas e venceu. Primeiro uma prova em Cancun onde chegou lá atrás, depois a seletiva olímpica onde ele classificou e por fim a maratona olímpica quando ele foi campeão em Londres. Temos vários exemplos que experiência é importante e que ela conta, mas que é o treino que faz a diferença.