Muito se tem falado nas redes sociais, em especial no círculo da natação, sobre Alexandre Pussieldi, o conhecido Coach, colaborador da Swim Channel desde o início e um dos nomes mais conhecidos do jornalismo esportivo olímpico.
A ocasião, é claro, é sua saída da Globo/SporTV, em que ele atuava como comentarista há mais de uma década e em que cobriu três Olimpíadas, três Jogos Pan-Americanos e nove Campeonatos Mundias.
Em seu consagrado Blog do Coach, ele publicou um texto de agradecimento e despedida.
Por ser um dos comentaristas esportivos com mais credibilidade do país e, sem dúvida, o maior expoente quando o assunto é natação, a notícia pegou muitos de surpresa.
Competições e notícias de natação na televisão passaram a ser sinônimos de Alex Pussieldi, figura praticamente onipresente na seara nos últimos anos. Pudera: ninguém sabe mais do que ele, ninguém consegue expressar e transmitir a informação melhor do que ele.
Mas, diferente do que parece, sua saída do SporTV não representa o fim de uma era.
Ele continuará por aí, dedicado e devoto ao esporte como sempre foi. Suas contribuições de forma alguma diminuirão, pelo contrário.
Essa era não chegou ao fim. Uma era que ele próprio inaugurou no universo da nossa natação.
Pessoa certa no lugar certo
Comentar natação na televisão não é tarefa fácil. Acreditem, este que vos escreve tem conhecimento de causa.
Primeiro, pelo volume de acontecimentos em um curto espaço de tempo que exigem concentração extrema (centenas de nadadores em uma só etapa de competição, cálculos mentais de parciais de provas rapidíssimas, prestar atenção aos mais diversos tipos de recordes e rankings etc).
Além disso, não é muito fácil encontrar o tom certo em competições de natação. Não se deve falar demais, nem de menos. É preciso mostrar animação, mas sem exageros. Não se deve vomitar informação para cima do telespectador, e sim administrá-la parcimoniosamente.
Alguns passam anos até se adaptar totalmente, outros sequer conseguem.
Lembro-me do Coach me confidenciando de que havia sido convidado para comentar as provas de natação no SporTV na Olimpíada de Pequim, em 2008, durante o Encontro Nacional de Técnicos de Natação, em março daquele ano, em Indaiatuba. Treinador experiente, formado em jornalismo, dono do site Best Swimming, com ótimos relacionamentos e com excelente trânsito na comunidade aquática e portanto altamente informado, ele tinha todas as credenciais para a tarefa.
Mas confessou que estava apreensivo. Afinal, tinha a noção de todas as nuances que envolvem uma transmissão, ainda mais de um evento tão colossal – seria sua primeira experiência olímpica. E se falasse demais? E se desse branco? E se deixasse se levar pela emoção? E se ficasse enrolando demais? Seria uma prova de fogo.
Pois, em pouco tempo, vimos que ele havia sido feito para aquilo. Informações precisas, histórias de bastidores, curiosidades, estatísticas, tudo na medida certa. E ainda por cima um tremendo pé-quente: em sua primeira cobertura, o primeiro ouro olímpico da natação brasileira.
Não tinha mais volta. Coach Alex havia estabelecido um padrão de ouro para os comentaristas não só da natação, mas do esporte olímpico do Brasil. Ele voltou para o Mundial de Roma de 2009 e a partir daí sua voz se tornou sinônimo de informação aquática.
Trabalho, trabalho e trabalho
Lembram que mencionei que ele havia nascido para aquilo? Pois, como os grandes campeões, ele não deitava sobre os louros do talento. Oscar Schmidt chegava aos treinos antes de seus colegas, Pelé ficava treinando cobranças de falta até altas horas, Michael Phelps abria mão de seu domingo de folga para treinar. Coach Alex é desses.
Dividi algumas grandes coberturas com ele in loco, entre as quais duas edições de Jogos Olímpicos e um Campeonato Mundial, além de vários torneios nacionais. Mesmo nos dias em que eu chegava ao local da competição bem cedo, horas antes do início das eliminatórias da manhã e o recinto estava praticamente vazio, ele sempre estava lá, já trabalhando. E, tarde da noite, quando eu ia dormir após um dia cheio, ele ainda estava atualizando seu blog com as informações mais frescas. No meio de tudo isso, nos longos intervalos entre as etapas, ele ia fazer turismo? Nada disso: instalava-se no centro de imprensa para averiguar as informações, levantar números, se atualizar com jornalistas e treinadores… enfim, ali era trabalho. E muito!
Perguntava: “Coach, você atualizou seu site às duas da madrugada, e depois às seis da manhã. Você não dorme?” Ele dizia: “Posso dormir daqui dez dias. Espero o ano inteiro por essa competição e vou ficar dormindo?” Um obcecado pela eficiência e um verdadeiro atleta de alto desempenho em sua profissão.
Você acha que ele é articulado para falar na televisão? Certamente ele fala bem, mas pouca gente sabe que já passou por muitas sessões de fonoaudiologia para desenvolver essa habilidade. Você o admira por sua memória incrível? Aposto que você também teria se compilasse as informações do jeito dele, analisando e escrevendo para seu blog absolutamente todos os dias, com raríssimas exceções.
Talento somado com dedicação mais consistência: pois não é assim que se forjam os campeões?
Competente e com carisma gigantesco, o Coach já era antes conhecido antes como uma enciclopédia da natação. Mas foi a partir de seu trabalho no SporTV que ele se tornou uma espécie de oráculo da natação brasileira. Não é exagero dizer que em nenhum outro esporte olímpico um comentarista conquistou tanta credibilidade quanto ele nos últimos anos.
O sarrafo aumentou, e isso é muito bom. Depois do Coach, o público da natação ficou mais exigente em relação ao modo como a informação é transmitida e consumida. Nas vezes que participei de transmissões do SporTV, minha maior preocupação era tentar manter o nível estabelecido por ele. Tarefa difícil, que exigia muito trabalho e estudo. Seria muita presunção dizer que consegui, mas isso me fez evoluir absurdamente. É aquela história: talvez Thiago Pereira não tivesse atingido um nível tão alto se não tivesse sido contemporâneo de Michael Phelps.
É por isso que a era inaugurada por Coach Alex Pussieldi na Olimpíada de Pequim, em 2008, está longe de acabar. Primeiro, porque ainda o veremos muito por aí. E, depois, porque o padrão deixado por ele tende a ser seguido por quem vem a seguir.
Como não ser grato a esse cara?
Estou sentindo falta do Coach na transmissão de natação da tv na Oliimpíada de Tóquio!Não dá vontade de assistir sem a presença marcante,eficiente e confiável dele.
Verdade, não é a mesma natação que dava empolgação em assistir!