Dois anos depois – e por culpa da malfadada pandemia – os melhores nadadores e nadadoras voltam a encontrar-se para um campeonato de Portugal. É o Campeonato Nacional de Juniores e Seniores de Piscina Curta, que reúne entre sexta-feira e domingo quase 400 atletas de 83 clubes na histórica cidade de Leiria.
Está, pois, de volta a festa da natação lusa; das saudáveis rivalidades, da competição, de querer ganhar; mas também do convívio entre pares – atletas, técnicos e árbitros também, claro – e desta vez em piscina curta.
Estes Nacionais serão também a única grande competição desta época em Portugal em piscina curta, pois terminado 2021 as principais competições já se realizam em piscina olímpica.
E apesar de ser um campeonato individual, os destaques passam muito pela medição de forças entre os grandes clubes de Portugal e pela sua luta pelas medalhas, e nem tanto pelos nossos nove apurados para o 15º Mundial de Piscina Curta, que ainda estarão a caminho da forma (para a competição que decorre entre 16 e 21 de dezembro).
Entre as principais potências da modalidade estão o tradicional trio de Lisboa: Sporting, SL Benfica, e Algés e Dafundo, mas também o fortíssimo Sp. de Braga, o FC Porto (com a olímpica Angélica André a estrear-se pelo seu novo clube em provas nacionais), ou ainda clubes cada vez mais fortes coletivamente como Galitos de Aveiro, Vitória de Guimarães, ou o Náutico Académico de Coimbra.
Catarina, a resiliente
Entre os nove atletas pré-mundialistas incluímos a mais que certa Ana Catarina Monteiro para nadar na majestosa Etihad Arena de Abu Dhabi, apesar da apendicite e consequente cirurgia há pouco mais de um mês. Foi isso mesmo que me confirmou Fábio Pereira, treinador da Catarina:
“A recuperação dela tem sido fantástica; já trabalhamos praticamente sem limitações e os indicadores nas tarefas de treino de simulação de prova têm sido muito bons. Vão ser dois fins-de-semana competitivos importantes para a sua preparação para o mundial”, referiu, pois a atleta representa o Clube Fluvial Vilacondense que compete na 2ª divisão nacional feminina (a 4 e 5 de dezembro).
O único treinador de nacionalidade portuguesa a ter um atleta em finais ou semi-finais olímpicas de natação – Alexandre Yokochi foi 8º em 1984 e 9º em 1988, mas o seu pai, ‘mister’ Shintaro Yokochi, é japonês – Fabio Pereira elogiou a resiliência e personalidade da sua atleta (11ª em Tóquio 2020): “ela está a demonstrar mais uma vez que com determinação, esforço e dedicação todos os obstáculos são superáveis, e vai para estes nacionais para ganhar mais confiança na competição, nadando várias provas. Não estando ainda a 100% vai lutar por ser Campeã Nacional, e se possível nadar perto dos seus recordes pessoais nas provas que normalmente não nada nas competições internacionais”.
Os restantes convocados são Alexis Santos e Francisco Santos (Sporting Clube de Portugal), José Lopes (SC Braga), Miguel Nascimento (CAR/SL Benfica), Fernando Silva (União Piedense), Diana Durães (SL Benfica), Tamila Holub (SC Braga), Victoria Kaminskaya (SL Benfica).
Mas se há algo que os últimos meses comprovaram, e o recente Meeting do Algarve reforçou, é que nem só desta quase dezena de atletas vive a nossa natação, felizmente. Aliás, a questão da ‘massa crítica’, da quantidade de atletas na base da pirâmide, para que cada vez mais cheguem ao topo, tem sido uma das carências da natação lusa, que já tem em algumas provas mais que um candidato à vitória; bom para o espetáculo, mas ótimo para o crescimento da modalidade.
Entre o olímpico Gabriel Lopes (que preferiu não apostar na ida ao Mundial), a jovem costista Rafaela Azevedo, e os dois representantes lusos no recente Europeu de Curta – Francisca Martins e Francisco Quintas, muitos motivos teremos de interesse.
Para além, claro, dos ‘new kids on the blocks’ (como escrevia há uns anos a prestigiada revista Swimming World sobre uma nova geração de valores dos EUA), como Carolina Fernandes, Mariana Cunha, e os vários jovens do Centro de Alto Rendimento (CAR) do Jamor treinados por Albertinho (que tem em Leiria o seu primeiro campeonato de Portugal).
Entre eles estão Paulo Vakulyuk e o vice-campeão europeu júnior Diogo Ribeiro, que após um período sem competições por problemas de saúde, regressa às competições em Leiria, e de quem já se esperam alguns sinais de recuperação em bom nível.
D. Diogo despede-se em Leiria
Se para centenas de jovens será uma das principais competições da sua carreira, para um em especial será a derradeira: Diogo Carvalho porá em Leiria um ponto final na sua longa e riquíssima carreira, que o levou a três Jogos Olímpicos, a medalhas em Campeonatos Europeus, a inúmeros recordes nacionais, e a ser o capitão da seleção nacional. Agora, é a vez de fechar esta etapa importante a sua vida, de deixar um legado e passar o testemunho aos mais novos. Também aguardamos com expectativa a forma comos e apresentará nestes seus últimos Campeonatos de Portugal.
Paralímpicos também competem
Como já tem sido habitual em algumas provas nacionais, também alguns atletas da natação adaptada competirão nestes Nacionais, entre eles o paralímpico Diogo Cancela, que já obteve vários recordes nacionais este mês em Coimbra.
Estaremos atentos, também, aos novos valores que neste mais curto ciclo nos levarão aos Jogos Paralímpicos de Paris 2024.