* Luara Maria de Freitas Lobo
Quem nunca ouviu essa expressão, que atire a primeira pedra! Porém, quando refletimos sobre essa frase ela nos dá a leve impressão de que se mentalizarmos simples palavras, como: “Eu não estou com frio!”, ou até mesmo: “A água está quente!”, irá modificar algo em nosso corpo, como se fosse mágica. Porém, nosso corpo não funciona dessa forma e, para entender o funcionamento dele, precisamos saber do que o nosso comportamento é composto
Somos frutos de três níveis de seleção: filogenética, ontogenética e cultural. O nível filogenético nos ajuda a entender as características fisiológicas e a herança genética de cada espécie, é o efeito da seleção natural sobre os organismos, essas foram selecionadas ao longo de muitas gerações, pois promoveram comportamentos que contribuíram para o sucesso na interação com o ambiente. O nível ontogenético nos permite compreender a história de vida de cada indivíduo, como o repertório comportamental de cada pessoa se molda a partir de suas experiências de aprendizagem ao longo da vida; enquanto a seleção cultural alcança o estudo de como o indivíduo é influenciado pelo ambiente social a que pertence.

Partindo deste conceito do estudo do comportamento humano, vamos pensar nos nadadores em provas de água abertas, o frio não afeta de maneira igual todos os participantes, cada um irá responder de forma distinta a esse estimulo. A forma com que cada atleta interpreta e lida com a baixa temperatura da água varia de acordo com esses três níveis: uma adaptação da nossa espécie, a história individual de exposição ao frio e água gelada de cada indivíduo e o ambiente social onde essa pessoa cresceu e se desenvolveu. Ambas estão diretamente relacionadas e interligadas.
Normalmente, há preferência por ambientes mornos, por serem mais confortáveis, porém, sair da zona de conforto é um fator essencial para alcançar excelência no desempenho, e entender o frio pode ser um ótimo caminho para o desenvolvimento do nadador. Sabe por que? O frio é um grande estimulador do sistema cardiovascular, e quando a ele agregamos algumas estratégias, há a possibilidade de criar uma fisiologia melhor adaptada a baixas temperaturas, estamos falando aqui de intervenções no nível ontogenético, que é um dos níveis que a Psicologia estuda e atua.

Uma das estratégias é a meditação, através da respiração é possível agir sobre o sistema nervoso autônomo, regulando assim a circulação sanguínea e o ritmo cardíaco; a segunda é a dessensibilização sistemática, que consiste na exposição gradativa ao estimulo pelo qual a pessoa busca criar respostas de enfrentamento, no caso do nadador com a água gelada, o atleta pode se expor a água em baixas temperaturas (partindo das referências que ele já tem) em algumas situações do dia-a-dia, por exemplo, ao tomar banho.
A água gelada e o frio em provas de águas abertas são adversidades e, como qualquer adversidade, são também oportunidades de os atletas desenvolverem ainda mais suas potencialidades, ambas podem auxiliar a pessoa a conhecer ainda mais o próprio corpo, despertando assim capacidades que cada um já tem dentro de si.
Fica aqui um convite: permita-se experimentar-se nas águas em baixas temperaturas e se surpreenderá com suas potencialidades!
* Luara Maria de Freitas Lobo, mestre em Ciências da Saúde, professora e psicóloga esportiva e clínica (CRP: 06/113974)
Ótima matéria!!!