Parafraseando ainda o diretor desportivo nacional ao canal público de TV: foi preciso esperar mais de 30 anos pela segunda medalha em Europeus (Alexandre Yokochi 1985 – Alexis Santos 2016), mais seis anos pela terceira medalha, e apenas seis dias pela quarta…!
Isto tem um nome: evolução.
E a última das três finais do dia para Portugal, os 200m estilos masculinos, era a que apresentava maior ansiedade, pois Gabriel Lopes tinha alcançado os melhores tempos tanto nas eliminatórias como nas meias-finais. Mas a concorrência era de peso, e sabíamos que o último percurso do Gabriel (a livres) é o menos bom, sendo especialmente forte a costas e bruços; por isso, era nesses dois percursos que teria que ir para a frente; e foi.
Depois de passar apenas em quarto aos 50m mariposa, no final do percurso de costas (em que foi o mais rápido) já era segundo, e após o de bruços (onde foi o segundo mais rápido) subia para primeiro lugar, assumindo a liderança da prova.
![Pode ser uma imagem de 1 pessoa, a praticar um desporto, piscina e texto que diz "POR LOPES phelps"](https://scontent.flis11-2.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/300172298_2919960478149409_45243936268546834_n.jpg?stp=dst-jpg_p180x540&_nc_cat=103&ccb=1-7&_nc_sid=730e14&_nc_eui2=AeHmOIBM7hYebML4u5K5vNhvwJBVPaLAuDHAkFU9osC4MdYAWDnUqwVDFyfv1eBt7UM&_nc_ohc=fmwI7rLM1mMAX8PSvbS&_nc_ht=scontent.flis11-2.fna&oh=00_AT9WkjxMRA7wq_lOCzx-otnCUjCgL6Vv77M_TBHaC5u4iw&oe=6302A217)
Mas nos derradeiros 50 metros o húngaro Hubert Kos (segundo aos 150m) e o italiano Alberto Razzetti (quarto na última viragem) aceleraram, realizando o primeiro 28.93 nos 50m livres finais, e o transalpino uns ótimos 28.34, acabando por roubar a prata ao português com um total de 1:57.82. O magiar foi campeão da Europa em 1:57.72 (apenas 10c. de diferença), e Gabriel foi medalha de bronze com 1:58.34, novo recorde pessoal (era 1:58.56 de Tóquio 2021).
Curiosamente, uma das quatro medalhas conquistadas por Portugal foi, exatamente, nos 200m estilos pelo referido Alexis Santos, tendo esta sido a sexta final europeia nesta prova.
À RTP, e com um compreensível sorriso de orelha a orelha disse estar a “viver um sonho”, sem conseguir ainda verbalizar muito bem o que lhe tinha sucedido…
Está de parabéns o jovem, mas já experiente, nadador da Associação Louzan Natação (de Coimbra), treinado por Vítor Ferreira e Gonçalo Neves, e que aos 25 anos conquista a mais importante medalha da carreira.
A partir de setembro integrará o projeto do Centro de Alto Rendimento de Coimbra, anunciado pela Federação Portuguesa de Natação nas vésperas deste Europeu, onde treinará com os seus colegas de clube, Camila Rebelo e o paralímpico Diogo Cancela, podendo (e desejando-se) que este seja um projeto que possa dinamizar ainda mais a natação do Centro do país, de onde são estes três atletas, e também Diogo Ribeiro (foi do União de Coimbra para o Centro de Alto Rendimento do Jamor em setembro de 2021).
António Silva: “aposta ganha”
A propósito, exatamente, do novo projeto da FPN, iniciado há 11 meses com a contratação do técnico brasileiro Alberto Silva e equipa (Samiel Elias e Igor Silveira), perguntei ao presidente António Silva se esta era – e após estes Europeus – uma aposta ganha?
“Sim, é uma aposta ganha, na estratégia da FPN iniciada com o plano estratégico 2014-2024. Os centros de treino e o seu enquadramento técnico são mais uma peça nesta estratégia, que sabíamos iria dar resultado com uma nova geração de nadadores, como se tem vindo a verificar.”
A concluir o, também, presidente da LEN e que continuará em Roma até ao final de todas as disciplinas aquáticas, dia 21, quis endereçar os “parabéns aos nadadores, aos clubes, aos treinadores, e à natação portuguesa”.
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João Costa 5º da Europa
Neste sétimo e memorável dia, coube a João N. Costa inaugurar o trio de finais lusos, nos 100m costas. Depois de alcançar um novo recorde de Portugal nas eliminatórias de ontem (53.87) e a terceira marca de sempre nas ‘meias’ (53.90), comprovou a sua consistência e caráter lutador, ao encarar esta final como se fosse ‘mais uma’, não vacilando, ele que apenas completou 21 anos no passado dia seis.
Passou aos 50m em sétimo lugar (26.32), que era um pouco mais rápido que a sua passagem quando do recorde nacional do dia anterior; a segunda metade foi de ‘raça da cidade-berço’ (é do Vitória de Guimarães), com 27.69, o quarto melhor na segunda metade, e que ainda lhe permitiu ultrapassar dois adversários, terminando no quinto posto a sua primeira grande final internacional com 54.01.
Prestação muito positiva do João, treinado pelo irmão Rui, também ex-nadador de bom nível.
![Nenhuma descrição de foto disponível.](https://scontent.flis11-1.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/299182171_2919609308184526_2367860071884258990_n.jpg?_nc_cat=105&ccb=1-7&_nc_sid=730e14&_nc_eui2=AeFzUaRQD2c565tUSINk2vBGBvNbKPnRe2UG81so-dF7ZdR6jhFWHbBmXK4WF5iwErw&_nc_ohc=iw0f8v60-D0AX-7SCjf&_nc_ht=scontent.flis11-1.fna&oh=00_AT-VJPW56b1qNOEzhNSW1wCa4XOatj5C5LHvTrR1rCG--A&oe=6302B505)
Catarina, a lutadora
Ana Catarina Monteiro nadou a sua segunda final europeia, e depois do melhor resultado da natação feminina (o seu 5º lugar nos 200m mariposa em 2018, agora já igualado, ver em baixo), sabia-se que não tinha tarefa fácil.
Na mesma prova em que foi semifinalista e 11º lugar em Tóquio 2021, quis começar um pouco mais rápido que o habitual, sendo quinta aos 50m; após isso atrasou-se na luta pelos primeiros lugares (6º lugar aos 100m em 1:01.78), quebrando na segunda metade da prova.
A experiente atleta de Fábio Pereira no Fluvial Vilacondense acabaria por ser sétima classificada em 2:10.79, ainda melhorando um pouco a marca das meias-finais (2:10.85).
‘Ciao’ Roma; ‘Ola’ Lima
Durante os Europeus combinámos que não lhe faria perguntas, mas concluída a campanha romana falei com o ‘fenómeno’ lusitano, Diogo Ribeiro, cuja mais recente publicação na sua conta de Instagram começa dizendo “Veni, vidi, vici” (ver meu artigo de previsão “Veni, vidi, vici”: Portugal acredita num bom Europeu em Roma – Swimchannel).
![Pode ser uma imagem de 1 pessoa](https://scontent.flis11-2.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/299651014_2918765238268933_1023254370412341761_n.jpg?stp=dst-jpg_p180x540&_nc_cat=109&ccb=1-7&_nc_sid=730e14&_nc_eui2=AeG55qO3yyJt4xebQ0g6n8SaVAHNvUIQ7XpUAc29QhDtetfXOgc9_n4i_pUfG73ejA0&_nc_ohc=QSLhiu9cOn0AX9aN5KN&tn=SRmpRPISt_TUAcr-&_nc_ht=scontent.flis11-2.fna&oh=00_AT-2cyqcutveWvnsArPdYjzRXEiQYGgLzHnKNIWC8hsQrQ&oe=6303261B)
Por isso comecei por perguntar ao atleta da seleção e do SL Benfica se os objetivos tinham sido cumpridos, e a conversa desenrolou-se assim:
– Sim os objetivos foram cumpridos, e mais que ultrapassados; agora é focar ao máximo no Mundial! Adorava ser campeão do Mundo!
Mas posso escrever isso Diogo?
– Sim claro que podes.
E acreditavas numa medalha em Roma?
– Sinceramente não se tratava de acreditar ou não… simplesmente nem cheguei a pensar nisso, porque eram os meus primeiro, europeus, então pensei só em fazer o meu recorde pessoal [aos 50m mariposa].
E para o Mundial de Juniores em Lima, Peru (30 deste mês a quatro de setembro), vais nadar o quê, e apostar mais em que provas?
– O mesmo.
As mesmas quatro!?
– Sim!
E a quem dedicas os teus incríveis feitos em Itália Diogo?
– Ao meu avô e ao meu pai…Ao meu avô porque acabou de passar por uma cirurgia, e ao meu pai porque sei que onde está, está feliz depois disto…
Por isso, ‘ciao’ Roma (adeus) e ‘ola’ Lima, onde novos desafios esperam o júnior. Diogo regressa já dia 18 a Lisboa, e parte no próximo dia 21 para a América do Sul acompanhado pelo seu treinador; e após tudo o que alcançou na última semana em Roma é claro candidato aos pódios e…a ser campeão do mundo, como próprio me confessou acima.
Os 10 Recordes absolutos de Portugal em Roma (clube e treinador), por ordem cronológica
- 50m mariposa, 23.24 (11/8, elim.) – Diogo Ribeiro (SL Benfica) – Alberto Silva (CAR FPN)
- 50m mariposa, 23.18 (11/8, m/f) – Diogo Ribeiro (SL Benfica) – Alberto Silva (CAR FPN)
- 50m mariposa, 23.07 (12/8, final) – Diogo Ribeiro (SL Benfica) – Alberto Silva (CAR FPN)
- 100m livres, 48.52 (12/8, m/f) – Diogo Ribeiro (SL Benfica) – Alberto Silva (CAR FPN)
- 200m bruços, 2:11.92 (13/8, elim.) – Gabriel Lopes (A. Louzan) – Vítor Ferreira/Gonçalo Neves
- 100m mariposa, 51.61 (13/8, m/f) – Diogo Ribeiro (SL Benfica) – Alberto Silva (CAR FPN)
- 100m costas, 1:00.94 (15/8, eli.) – Camila Rebelo (A. Louzan) – Vítor Ferreira/Gonçalo Neves
- 100m costas, 1:00.66 (15/8, m/f), Camila Rebelo (A. Louzan) – Vítor Ferreira/Gonçalo Neves
- 50m bruços, 31.04 (16/8, elim.) – Ana P. Rodrigues (Escola Desportiva de Viana) – Rafael Ribas
- 100m costas, 53.87 (16/8, elim.) – João N. Costa (Vítória SC/Guimarães) – Rui Costa
As nove finais de Portugal no Foro Italico
3º lugar – 50m mariposa, 23.07, Diogo Ribeiro (SL Benfica, Alberto Silva/CAR)
3º lugar – 200m estilos, 1:58.34, Gabriel Lopes (A. Louzan, V. Ferreira/G. Neves)
5º lugar – 200m costas, 2:11.03, Camila Rebelo (A. Louzan, V. Ferreira/G. Neves)
5º lugar – 1500m livres, 16:18.94, Tamila Holub (SC Braga, Luís Cameira)
5º lugar – 100m costas, 54.01, João N. Costa (V. Guimarães, Rui Costa)
6º lugar – 800m livres, 8:36.36, Tamila Holub (SC Braga, Luís Cameira)
7º lugar – 1500m livres, 16:26.53, Diana Durães (SL Benfica, Ricardo Santos)
7º lugar – 200m mariposa, 2:10.79, Catarina Monteiro (C. Fluvial Vilacondense, Fábio Pereira)
8º lugar – 100m mariposa, 52.28, Diogo Ribeiro (SL Benfica, Alberto Silva/CAR)
100% de meias-finais e 70% de finais
Os dados que apresentei acima permitem concluir: Portugal alcançou 14 meias-finais e uma posição equivalente (14º lugar nos 800m livres), pela totalidade dos 10 atletas, seis mulheres e quatro homens. Ou seja, todos nadaram pelo menos uma meia-final, o que é de realçar.
As nove finais foram atingidas por sete atletas: cinco por mulheres e quatro por homens, sendo que a Tamila Holub e o Diogo Ribeiro nadaram duas finais cada. Ou seja, 70% dos 10 atletas chegaram, a finais, outro dado muito importante para entender o sucesso desta brilhante equipa.
O novo mínimo de participação tem de ser este, com esta ambição e crença; muito treino claro, mas com condições de trabalho.
E também, saber planear o futuro com o máximo de antecedência – ouvindo e envolvendo toda a comunidade aquática – pois o pior que poderia suceder à natação lusa seria viver ‘à sombra’ destes resultados (a potência europeia que é Espanha, com 22 atletas em Roma, não obteve uma única medalha…), e ignorando sinais como os poucos juniores (apenas quatro) que tivemos nos Europeus deste verão (com duas meias-finais).
Fantástica classificação coletiva
Portugal foi um dos 20 países que conquistou medalhas nesta 36ª edição da competição, obtendo um extraordinário 14º lugar entre as quase 50 nações presentes, com 162 pontos, em 33 países que pontuaram (pelas classificações dos seus atletas).
A Itália é a grande vencedora em medalhas e coletivamente; segue-se a França, Grã-Bretanha, Hungria, Países Baixos, Alemanha, Polónia, Suécia….
Individualmente o Troféu LEN para a melhor nadadora foi para Ruta Meilutyte (Lituânia), e em masculinos, claro, para o prodígio da Roménia, David Popovici (nas redes sociais até se brincava e escrevia “Veni, vidi, PopoVici”…).
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