O que Cesar Cielo é na natação olímpica, três medalhas, e o nosso único medalhista de ouro, Daniel Dias na natação paralímpica, 28 medalhas sendo 14 de ouro, é Guilherme Maia Kabbach, este santista de 33 anos de idade, que concluiu sua quarta Surdolimpíada com mais duas medalhas de bronze na competição encerrada na semana passada em Caxias do Sul.
Maia é nossa estrela do esporte para surdos, por muitos anos defendeu as cores da Unisanta em Santos e esteve sob o comando de Márcio Latuf. Este ano, no início da temporada, tomou a decisão de se mudar para Caxias do Sul, treinar na piscina do Recreio da Juventude, local que foi sede da 24ª edição da Surdolimpíada e sob o comando do técnico Regis Mencia.

Na sua quarta participação dos Jogos Mundiais para Surdos, Maia não esperava ser acolhido da forma que foi. O clube, Recreio da Juventude, a comissão técnica, os colegas de treinamento, e principalmente a comunidade “vestiram a camisa” Maia para lotar o complexo nos dias de suas duas provas. Havia gente do lado de fora vendo pelo vidro ele alcançar suas medalhas de bronze nos 100m e 200m livre.
As únicas duas medalhas da natação para surdos do Brasil num total de seis bronzes conquistados por toda delegação brasileira na competição. Maia estreou nos Jogos em 2009, na edição de Taipei, em quarto participações são sete medalhas, um ouro, uma prata e cinco bronzes, fazendo dele o maior medalhista brasileiro da história da competição.

Os Jogos Mundiais para Surdos, chamados de “Deaflympics” desde 2001, são o segundo mais velho evento multiesportivo do mundo. Perdendo apenas para os Jogos Olímpicos de Verão, a competição é realizada a cada quatro anos desde 1924 e com reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional.
A competição de natação segue as regras da FINA com exceção para o momento da partida onde os atletas acompanham um sistema de luzes, igual a uma sinaleira de trânsito. O vermelho é indicativo de atenção e “aos seus lugares”, o amarelo indica o posicionamento imóvel e o verde é quando os atletas deixam os blocos de partida.

Acabou sendo na principal prova de Guilherme Maia o momento mais controverso da competição. Um nadador dos Estados Unidos deixou o bloco de partida com bastante atraso e a delegação americana, vencedora da competição de natação, entrou com um protesto. Americanos queriam a anulação da prova dos 200m livre onde Maia liderou a mesma até os 175 metros sendo batido por dois japoneses terminando com seu segundo bronze.
Uma grande discussão entre os organizadores, a grande parte feita em libras e a revisão do sistema de vídeo que depois de muitos minutos apontou que a luz verde havia acendido para todos, inclusive para o nadador americano. O bronze de Maia estava confirmado e a arbitragem da Federação Gaúcha de Desportos Aquáticos tomou a decisão correta ao validar o resultado.

Maia era o campeão da Surdolimpíada e ainda detém o recorde mundial da prova (1min52s55) e tinha tudo para chegar ao bi. Sua prova foi perfeita, e colocava uma vantagem quase que imbatível de ser tirada. Porém, abusou da frequência e do trabalho de pernas entre os 100 e 150 metros, e sentiu no final. Os últimos 25 metros foram decisivos para cair do ouro para o bronze.
O entusiasmo e principalmente o engajamento que Maia gerou na cidade de Caxias do Sul nestes meses foi retribuído com uma celebração histórica. Mesmo com a deficiência auditiva, Maia sentiu a vibração e o suporte da torcida que lotava a piscina do Recreio. Tudo isso lembrou muito a prova dos 200m medley de Thiago Pereira nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Onde a parte emocional acabou comprometendo a prova técnica.

O bronze foi comemorado de qualquer maneira, e muito comemorado. Maia não escondeu que o carinho que recebeu foi imensurável. Caxias do Sul vibrou como nunca, natação surdolimpica ganhou um espaço que jamais havia tido em nosso país.
Maia é apenas um de nossos representantes, de um trabalho que precisa ser extensivo e ampliado por todo país, criando cada vez mais oportunidades e desenvolvendo o aspecto inclusivo de nossa modalidade. Enquanto isso, é hora de celebrar o nosso maior nadador da história Guilherme Maia Kabbach.



































