Miguel Duarte Nascimento nasceu a 19 de janeiro de 1995, e ficará na história como o primeiro nadador português a quebrar a barreira dos 22 segundos na prova mais rápida: 21 segundos e 90 centésimos para cumprir os 50 metros da piscina olímpica do Jamor (Oeiras).
A vibração e energia no complexo aquático do Jamor estavam ao rubro quando, pouco depois das 17h30, o feito de Miguel levou ao aplauso de atletas, treinadores e público presentes. Vários jovens nadadores foram pedir ‘selfies’ à estrela da natação lusa, qual ‘pop star’ após um concerto. E que espetáculo foi assistir a esta final A, em que Miguel até foi…10º e último classificado. Deve ter sido uma das raras vezes em que alguém não se importa de ser último.
“Queria tentar mais uma vez”
“Ontem à noite decidimos”, explicou-me Alberto Silva, “tentar hoje novamente na prova de 100m livres”. Ouvi o campeão, que reforçou: “mal acabei a prova fui ter com o ‘Albi’ [Alberto] e disse-lhe ‘quero pelo menos tentar mais uma vez; ter mais uma oportunidade de melhorar’; e ele acreditou em mim e disse-me que sim, ‘ok, vamos!’, e tentei novamente.”

Miguel, que torna Portugal no 16º país europeu e 31º do mundo a ter um atleta em sub-22 (ver artigo de Alex Pussieldi em Singapura é o mais novo país a entrar no Clube do 21: Teong Tzen Wei 21.93 – Best Swimming (swimchannel.net) estava confiante, e referiu: “ao ver o vídeo em equipa, percebi que tinha o tempo ’21’ em mim…e mais que o tempo é o que cresci…pois sem dúvida esta tem sido uma época de aprendizagem, de novas emoções e sensações; de aprender a lidar com tudo; e tudo tenho conseguido graças à minha mulher [Victoria Kaminskaya] e à minha filha”.
Aliás, o experiente nadador acrescenta que “a natação deu-me uma mulher [pois foi nas piscinas que se conheceram] e uma filha, e isso é todo um mundo novo, e tenho que conseguir o equilíbrio entre ambos”.
“Alberto? Tem sido um privilégio”
Como é sabido o atleta representa o Sport Lisboa e Benfica (é ferveroso adepto do clube das ‘águias’) mas treina desde setembro no Centro de Alto Rendimento da FPN no Jamor, e não poupa elogios a Alberto Silva e equipa: “tem sido uma honra para mim, mais que tudo um privilégio, aprender diariamente com ele e equipa, o Samie, o Igor…são só oito meses que estamos juntos, mas passamos tanto tempo com eles, até mais que com a família” sublinha…para ainda dizer que “há sempre respeito, e somos como uma família”.
E sobre os Jogos Olímpicos de Paris 2024 (‘cumpriu’ o mínimo’, mas o período para a sua obtenção ainda não se iniciou)? Sobre os Jogos…? Bom, o Alberto diz-me muitas vezes ‘não penses no tempo…quanto mais pensares mais longe ele fica; foca-te na prova, no que podes melhorar’, e foi o que fiz hoje; pensei nos meus pontos fortes e nos fracos, para melhorar”.
Ainda sobre o papel essencial dos treinadores refere que “digo sempre que o melhor treinador não é o que sabe mais, mas o que conhece melhor o atleta; e aprendi sempre com todos os meus treinadores”, disse-me, num discurso sempre ponderado e de grande maturidade.
Finalmente, sobre a questão ‘Europeu de Roma, sim ou não’, foi honesto: “a 99% não vou; não me sinto disponível [mentalmente], pois estou focado a 100% na minha mulher e na minha filha [que se chamará Margarida], e que deve nascer dentro de duas a três semanas”
A marca de 21.90, é novo recorde nacional da categoria sénior e absoluto, melhorando largamente os anteriores máximos de 22.01 (que já tinha feito por duas vezes em apenas duas semanas), detendo agora as 15 marcas mais rápidas de sempre no país.
Mas a marca tem outros méritos:
– torna-o no 40ª melhor de sempre na Europa nos 50m livres (a confiar nos geralmente precisos ‘rankings’)
– no 14ª melhor na Europa em 2022
– ‘cumpriu’ o mínimo olímpico para Paris 2024, mas ainda não conta (o período vai de um de março de 2023 a 23 de junho de 2024)
– reforça o recorde ibérico que já lhe pertencia desde 4 de julho em Oran (J. Mediterrâneo)
– vale 870 pontos na tabela FINA masculina de piscina longa
– e, curiosidade pura: desde dois de junho de 2013 em Espanha que não melhorava tanto numa prova de 50m livres como hoje (11 centésimos). Nesse dia nadou em 24.40, sendo o seu anterior recorde pessoal 24.63 desde agosto de 2011.
Com o final deste animado Open/Campeonatos de Portugal de Juvenis e Absolutos no Jamor fecha-se, também, um ciclo na vida de Miguel Nascimento, naqueles que terão sido os oito meses mais produtivos da sua longa carreira.
Abre-se agora, como disse a Swim Channel, “todo um mundo novo” que o levará ‘à prova das provas’: a experiência inigualável da paternidade.
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