“Quando você compete com outras pessoas, nenhuma quer ajudar você. Mas quando compete com você mesmo, todos querem ajudar você.” – Simon Sinek, escritor inglês
Pensem na frase acima.
Diz muito a respeito de humildade, generosidade e alteridade.
Pode parecer uma frase desconexa, se colocada no contexto de uma competição esportiva de alto nível.
Mas parece cair como uma luva para Nicholas Santos.
Hoje, aos 39 anos, o brasileiro conquistou a medalha de bronze nos 50m borboleta no Mundial de Esportes Aquáticos em Gwangju, na Coreia do Sul.
Na história do evento, em provas de natação em piscina, Nicholas, em 2015, aos 35 anos, se tornou o mais velho medalhista.
Aos 37 anos, aumentou seu recorde dois anos depois.
E agora, ainda mais.
Nadando em busca do ouro após duas pratas nas últimas edições, com o tempo de 22s79 (um pouco acima de seu recorde sul-americano de 22s60) foi superado pelo americano Caeleb Dressel (22s35, recorde de campeonato) e pelo russo Oleg Kostin (22s70).
O bronze veio com um tempo apenas um centésimo mais rápido do que o do americano Michael Andrew.
Alívio!
Impossível não lembrar do Mundial de 2013.
Na ocasião, Nicholas se classificou para a final da prova com o melhor tempo.
E, na final, terminou na quarta posição.
Em uma prova tão disputada e volátil, hoje ele não deixou que aquela história se repetisse.
Aquela prova de 2013 teve um sabor agridoce.
Mais amargo do que doce.
Apesar de Cesar Cielo ter trazido a medalha de ouro para o Brasil, a comunidade aquática não conseguia esconder a frustração pelo desfecho de Nicholas.
Pois ele é uma daquelas pessoas da frase do início do texto, para a qual todos torcemos.
Após bater o recorde mundial dos 50m borboleta em piscina curta no ano passado, com uma saída espetacular, viralizou nas redes sociais um vídeo em que ele dava lições a alguns nadadores sobre como melhorar suas saídas.
E um deles era justamente Michael Andrew, que por pouco hoje não lhe tirou a medalha de bronze.
Mesmo que isso acontecesse, Nicholas não teria se arrependido.
Afinal, sua competição é consigo próprio.
Isso também justifica o fato de a FINA ter solicitado sua convocação para o Mundial, a despeito de ele não ter obtido classificação pelos critérios da CBDA, que deu prioridade a provas olímpicas.
Se fosse outro nadador, talvez seus adversários estivessem torcendo para que a decisão da CBDA fosse mantida e ele não viajasse para Gwangju.
Afinal, para eles, certamente seria uma chance de medalha a menos.
Pelo contrário, eles louvaram a convocação do brasileiro e a possibilidade de tê-lo na competição.
Nicholas Santos construiu um legado difícil de apagar nos últimos anos.
Ano após ano, de centésimo em centésimo, de braçada em braçada, cada vez superando seus limites.
Mas, importante que se diga, os seus limites, e não os limites dos outros.
Por isso não poderia haver pessoa melhor para bater recorde após recorde de medalhista mais velho em Mundiais.
Nada ilustra melhor essa evolução do que sua constante luta para superar a si mesmo.
Por isso que todos, até mesmo os adversários, querem vê-lo no pódio.
E já torcem para que, aos 41 anos, Nicholas se torne o primeiro medalhista em Mundiais acima dos 40, em 2021, no Mundial de Fukuoka.
Será?
Por Daniel Takata