O experiente nadador Phelipe Rodrigues disputa em Tóquio sua quarta Paralímpiada. E ele começou bem, com a conquista da medalha de bronze nos 50m livre na categoria S10. Além da prova mais rápida da natação, o atleta natural de Recife, irá disputar os 100m livre, 100m borboleta e os revezamentos 4x100m livre e 4x100m medley.
Atleta do time Kpaloa, Rodrigues é o nadador paralímpico mais rápido do Brasil. Em 13 anos de carreira soma participações em três Jogos Paralímpicos (Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016), cinco Mundiais (Eindhoven-2010, Montreal-2013, Glasgow-2015, Cidade do México-2017 e Londres-2019) e três Parapan-Americanos (Guadalajara-2011, Toronto-2015 e Lima-2019).
E falando em medalhas conquistadas, ao todo ele conquistou oito em Paralimpíadas, sendo duas medalhas de prata em Pequim-2008, uma de prata em Londres-2012, duas de prata e duas de bronze na Rio-2016 e agora o bronze em Tóquio-2020. No Japão Rodrigues nadará forte rumo a inédita medalha paralímpica de ouro em sua carreira. Confira uma entrevista feita pela equipe da Kpaloa com o nadador.
Esse ciclo foi bem longo e desafiador. A pandemia alterou muito a sua rotina de treinamento?
Sim, muito. Eu fiquei quase dois meses sem ter contato com a água. Foi muito difícil manter a motivação. Foi um período em que não tive rotina de sono e só jogava videogame. Até que fui para a cidade de Assis, no interior de São Paulo, e eu e Maria Carolina Santiago tivemos uma academia fechada só pra gente treinar. Foi um mês e pouco nisso até o CT Paralímpico reabrir e nossa vida voltar quase ao normal. Os horários e protocolos exigidos eram muito rígidos e a alimentação nunca mais foi no CT. Então, eu precisei me organizar, me cuidar para conseguir me adaptar à minha nova rotina.
Nas últimas semanas você procurou se preparar mais mentalmente?
Não apenas nas últimas semanas, mas a preparação mental é um item muito importante na vida de um atleta. Então desde 2014 venho me cuidando e me preparando mentalmente junto com minha equipe de psicólogos.
Qual é o sentimento de estar presente em mais uma Paralimpíada?
Acaba sendo uma mistura de sensações. Primeiro pelo fato de que 13 anos atrás eu estava participando da minha primeira edição. Então eu fico pensando em tudo o que eu já passei e como foram as minhas experiências até aqui. Quando junto tudo isso, acabo ficando ansioso, mas na mesma hora consciente do que eu tenho que fazer aqui. É sempre uma honra representar a nossa nação na maior competição do mundo.
Levando em consideração as outras edições das Paralimpíadas que você competiu, acha que essa será a mais desafiadora da sua carreira?
Sim. Porque vivemos um ciclo de cinco anos e em condições adversas. Não estou falando de mim ou dos atletas do Brasil, mas de todo mundo. Outra questão é o fato de que nós viemos dos Jogos Paralímpicos em casa (Rio-2016), com a arquibancada lotada gritando nosso nome. E agora, por questões óbvias, não terá torcida. Eu já vivi outros três Jogos, mas para quem fará a sua primeira vez pode ser que sinta um pouco a ausência do público.
Como você avalia a sua trajetória comparando sua estreia em Paralimpíada com essa sua quarta participação?
Em Pequim eu estava tentando entender o que estava acontecendo na minha vida, foi tudo muito rápido. Só depois da primeira medalha é que eu me dei conta de que aquilo ali era sério. Tive a sorte de dividir quarto por muitos anos com o Clodoaldo Silva (desde 2010 até o ano de sua aposentadoria, em 2016), que me ajudou e aprendi muito com ele. Depois de Pequim, vivi a grande resiliência da minha vida em Londres, que foi sair de um quarto lugar numa prova que eu tinha tudo para estar no pódio, para a classificação na final em uma prova que eu não tinha nenhuma chance e logo em seguida uma medalha de prata. E o que falar do Rio? No Rio, a gente viveu a pressão da arquibancada a nosso favor, esperando o melhor de nós. Subi no bloco sentindo ele tremer porque a arquibancada estava toda de pé e super eufórica de ter brasileiros nadando. Isso é inesquecível. Hoje, é outro cenário. Eu trabalhei muito para estar aqui, treino de segunda a sábado. Às vezes são 14 treinos por semana. E tudo o que me faz acordar todos os dias motivado e vir fazer o meu melhor e conquistar a única medalha que me falta: ouro em Jogos Paralímpicos!
* Entrevista feita por Letícia Parada, do time Kpaloa.