Que Alexander Popov, grande mito da natação mundial, não tem papas na língua, não é novidade. E nem é surpresa vê-lo criticar os expoentes das provas de livre desde que ele perdeu sua hegemonia e deixou as piscinas. Mas quando fala, todos param para ouvir o 9-vezes medalhista olímpico. No Mundial de Kazan, em seu país, o russo acompanhou as provas do campeonato (do qual tem cinco medalhas individuais na carreira), e se surpreendeu com a saída de Cesar Cielo dos 50m livre, por uma lesão no ombro.
Questionado sobre a decisão do brasileiro, Popov primeiro foi irônico e perguntou: “Cielo quem?”. Depois, respirou profundamente, segurou alguns segundos de silêncio, e completou. “Eu tenho um grande amigo no Brasil, Gustavo Borges. Ele tem classe. Eu sempre comparo nadadores brasileiros com o Gustavo Borges. E na minha opinião, Cesar Cielo não está no mesmo nível em sua personalidade, como nadador. Pelo respeito com os competidores, muitas coisas. É uma classe diferente. E estou acostumado com pessoas mais de classe. Gustavo é um fantástico embaixador para o esporte brasileiro, especialmente para a natação. Cesar Cielo é bom para si mesmo.”
“Por que ele veio, se tinha uma lesão no ombro? Ele poderia ter dado sua vaga para qualquer outro brasileiro ter a chance de competir”, questionou. No passado, Popov já havia feito duras críticas a Cesar por conta do caso de doping do nadador, em 2011.
Como membro do Comitê Olímpico Internacional, Popov fez várias viagens ao Rio de Janeiro, para acompanhar o andamento dos preparativos para os Jogos de 2016. Para isso, adotou um tom mais político: falou sobre a consciência de todos sobre a poluição na Baía de Guanabara, que prejudicará diversas modalidades com suas águas contaminadas. Em sua opinião, tudo será resolvido a tempo. Tudo mesmo: ” Estamos todos confiantes de que a cidade estará pronta. Os locais estarão prontos. Os Jogos vão acontecer de qualquer forma. Eu definitivamente quero provar o sabor do Brasil. Samba!”
Se em uma entrevista à Swim Channel em 2013 Popov afirmou desconhecer casos de doping na Rússia, desta vez lamentou o problema atingir o seu país em cheio na mídia internacional. O país possui o maior numero de casos recentes no esporte, segundo relatório da Agência Mundial Anti-doping (WADA). Em 2013, os russos lideraram com 225 violações, inclusive na natação: Yulia Efimova, que venceu os 100m peito em Kazan, cumpriu um ano e 4 meses de suspensão por uso de sustância proibida.
“É uma coisa triste, para qualquer atleta de qualquer esporte, tomar substâncias proibidas. Triste porque nessa situação os atletas estão procurando um atalho para o topo. E não existe esse caminho. Para construir uma carreira sólida no esporte, qualquer um, você precisa se dedicar muito, mas de uma forma boa. Tem que investir tempo em treino, em você, na sua saúde, em seu bem-estar.. e essa responsabilidade deveria ser um fator dominante para se ficar no lado ‘a salvo’, no lado bom. Nunca ir para o lado ruim. E quem vai para o lado ruim, eu não tenho respeito algum.”
Se não vê um atleta dominante no estilo livre hoje em dia na natação mundial, Popov também “cornetou” Florent Manaudou, por não nadar os 100m livre e se restringir a provas curtas: “Eu acho que ele perde uma chance de conquistar mais títulos. Mas é uma decisão dele e de seu treinador, temos que aceitar. Simples assim.”
Ao ser informado que Manaudou não gosta de treinar para a prova dos 100m, outra resposta direta: “Então só tem uma opção. 50m. Uma piscina. Se ele não gosta, ok, é escolha dele. Acho que ele seria excelente nos 100m livre, mas eu entendo não querer treinar, é doloroso.”
Por Mayra Siqueira
A equipe Swim Channel no Mundial de Kazan é patrocinada pela Finis, a melhor tecnologia para natação.