Sem dúvida uma das cenas que mais chamou a atenção de todos no primeiro dia do Campeonato Mundial de Gwangju foi a cerimônia de premiação dos 400m livre masculino. Após a execução do hino nacional chinês, Sun Yang cumprimentou o medalhista de bronze Gabriele Detti e acenou para que ele subisse ao degrau mais alto do pódio para as fotos. Yang não faz o mesmo com vice-campeão Mack Horton. Ele simplesmente nem olhou para o australiano, que também o ignorou. Na piscina para as tradicionais fotos do trio com a medalha, Horton se negou a se aproxima do chinês e não sorriu. Mas porque existe esse ódio entre eles?
Para entender essa situação temos que voltar um pouco no tempo, mas precisamente para 2014. Em novembro daquele ano a Federação Chinesa anunciou que Sun Yang havia cumprido em sigilo três meses de suspensão por doping por ter tomado um medicamento que continha um estimulante proibido. A punição não veio a tona e só se soube da suspensão do atleta meses depois e sem detalhes adicionais. Horton foi um dos primeiros nadadores a se manifestar e reclamar.
Na época Sun Yang treinava na Austrália, mas foi banido pela Federação do país de continuar treinando no país. Horton então tornou-se a voz mais crítica a Yang e passou a defender a bandeira do esporte limpo. Nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 eles se enfrentaram na final dos 400m livre e Horton levou a melhor. No pódio eles se cumprimentaram até de forma amigável e posaram para fotos juntos. Na entrevista coletiva após a prova, o australiano foi duro com o chinês que não gostou das declarações.
No ano seguinte foi a vez de Yang dar o troco e vencer o rival no Mundial de Budapeste. Desta vez um cumprimento frio no pódio onde já ia ficando nítido que um não gostava do outro. Porém, seguiram tudo de forma protocolar. Mas essa relação de ódio explodiu de vez em Gwangju.
Em 2018 veio a tona controversa história do exame surpresa antidoping que o chinês deveria ter feito e não fez. Uma equipe de controle de anti-dopagem da WADA foi até a residência de Yang para fazer coleta de sangue e urina. O nadador afirmou que um dos fiscais não tinha credencial e ainda ficou fazendo fotos dele. Após uma discussão ele e seu segurança teriam destruído as amostras. Após uma novela e troca de acusações, Painel de Doping da Fina inocentou o chinês, mas a WADA apelou para o tribunal do CAS/TAS e o caso pode ser novamente analisado.
O fato enfureceu Horton, principalmente após o jornal australiano The Daily Telegraph divulgar um vazamento com documentos do polêmico exame antidoping. No Mundial ele resolveu se manifestar da forma que assistimos na cerimônia de premiação. Sem sorriso, sem foto e sem apertar a mão de Sun Yang. Para muitos uma atitude errada, já que um atleta não pode interferir nas regras antidopagem. Para outros uma manifestação justa na luta pelo esporte limpo. Sun Yang como sempre ignorou e preferiu celebrar sua medalha, desprezando o rival.
Horton só sorriu quando tirou fotos com o medalhista de bronze Detti, como podemos ver acima. Ao longo da história tivemos muitas rivalidades acirradas na piscina, mas talvez nenhuma delas tenha chegado ao ponto desta entre Horton e Yang. E agora como será o próximo encontro entre ambos em Tóquio-2020?