Enquanto a atenção brasileira se voltou para sua representante que, às lágrimas, vibrava com a suada, sonhada e sofrida medalha olímpica conquistada um ano atrás, a perdedora por punição saía inconformada. Aurelie Muller, francesa de 27 anos, não engoliu a perda da prata no Rio-2016 por ter cometido a infração de se apoiar na concorrente italiana Rachele Bruni na linha de chegada. Se Poliana Okimoto vibrava, a extirpada da conquista lançava impropérios nas suas redes sociais.
A imprensa francesa nunca perdoou muito bem, mas a competente e talentosa nadadora deu a sua volta por cima no melhor estilo que poderia esperar: mantendo o seu trono de melhor do mundo na prova dos 10 km no principal campeonato além dos Jogos Olímpicos, após o ouro de Kazan-2015.
Consistente, Aurelie Muller subiu ao lugar mais alto do pódio pela segunda vez consecutiva na disputa, que contou com a equatoriana Samantha Arevalo em segundo e Ana Marcela Cunha empatada com outra italiana, Arianna Bridi, em terceiro. E não parou por aí: foi prata nos 5 km e ouro novamente na prova por equipes, que mostrou a força da França, nova dominante nas águas abertas.
A perda olímpica foi muito mal digerida por Aurelie, que apelou de todas as formas esportivamente aceitas para tentar reaver sua conquista no praia de Copacabana. Quando, enfim, o TAS (Tribunal Arbitral do Esporte) deu seu veredicto final, a francesa fez as malas, embalou sua touca, óculos, e tirou um período de férias.
Seu discurso após a primeira medalha em Budapeste foi de redenção. No L’Équipe, principal portal esportivo da França, a frase de destaque foi: “esta medalha os juízes não poderão tirar dela”. Incontestável e renovada, de passado e decepção enterrada, Aurelie puxa uma geração de natação de águas abertas francesa que ainda trará muitas alegrias ao país. E seus olhos, de nítido contraste da marca dos óculos no restante de pele queimada pelo sol, miram um pouco além: as águas do Pacífico, que a aguardam para a verdadeira redenção, em 2020.
Por Mayra Siqueira