Até das provas de águas abertas começarem em Balatonfüred a França tinha apenas quatro medalhas conquistadas em toda sua história em Campeonatos Mundiais de Esportes Aquáticos. Hoje, ao fim da prova do revezamento de 5 km os franceses conquistaram sua quinta medalha apenas neste Mundial, a terceira de ouro no Lago Balaton. É de longe o melhor desempenho do país nas águas abertas em Mundiais, inclusive, superior a todas as campanhas anteriores. Uma verdadeira revolução francesa em águas abertas.
O principal responsável por esta revolução é Stéphane Lecat, que foi o primeiro nadador do país a subir ao pódio numa prova de águas abertas em Mundiais (foi prata nos 25 km em Fukuoka-2001). Hoje ele é o técnico chefe da seleção francesa de águas abertas e como já escrevemos aqui no Blog SWIM CHANNEL, ajudou a Federação Francesa a adotar uma metodologia profissional que busca recrutar bons nadadores na prova de 10 km. Com esse trabalho de renovação os franceses vem colhendo bons resultados e revelando nadadores competitivos para a modalidade.
Antes da prova de revezamento a França já era apontada por muitos especialistas como uma das favoritas. Afinal, tinha dois atletas que haviam conquistado quatro medalhas até então: Aurelie Muller (ouro nos 10 km e prata nos 5 km) e Marc-Antoine Olivier (ouro nos 5 km e bronze nos 10 km). Os Estados Unidos, a Itália, o Brasil e a Hungria eram outras equipes cotadas como candidatas ao pódio em uma prova que estreava seu novo formato em Mundiais. Até Kazan-2015 as provas por equipes tinham três atletas que nadavam juntos e contra o relógio. O trio tinha que permanecer próximo e quando o último tocasse no pórtico de chegada o tempo era contabilizado. Agora as provas continuam tendo 5 km de distância, mas agora cada equipe conta com quatro integrantes que nadam 125om cada, semelhante ao que acontece na piscina.
Esse novo formato propiciou diferentes estratégias de prova pelas equipes. França, Hungria e Austrália, por exemplo, intercalaram seus atletas mantendo a formação mulher-homem-mulher-homem. Brasil e Estados Unidos optaram pela formação homem-mulher-mulher-homem. Itália e Alemanha abriram com suas duas mulheres e fecharam com seus dois homens e alguns países como Rússia, Reino Unido e Equador fecharam o revezamento com mulheres. (Veja abaixo o momento da chegada)
Franca, USA, Italia, Brasil 6o no rev @finabp2017 #FINABudapest2017 pic.twitter.com/C00t7haO9B
— Coach Alex Pussieldi (@alexpussieldi) 20 de julho de 2017
A França adotou uma estratégia progressiva, deixando seus melhores nadadores para o final. Oceane Cassignol abriu a prova e após sua parcial o time francês estava em 11º lugar. Em seguida caiu na água Logan Fontaine que já subiu para o 4º lugar aproximando a equipe dos líderes. Era metade da prova e os franceses estavam a frente de seus principais adversários. A missão dos primeiros nadadores era justamente deixar o time bem situado para as duas últimas parciais que teriam os campeões mundiais Muller e Olivier. A tática deu certo e ambos não tiveram muitos problemas para ultrapassar os britânicos, que lideravam até então, e abrir vantagem para os Estados Unidos e Itália que cresciam logo atrás. Com 54min05s9 Olivier cruzou a linha de chegada e conquistou a quinta medalha do país em Budapeste-2017.
O Brasil esteve apenas na primeira parcial entre os três primeiros colocados, mas depois se distanciou da liderança e não conseguiu esboçar uma luta por medalhas. A ordem da equipe que nadou foi Allan do Carmo, Viviane Jungblut, Ana Marcela Cunha e Fernando Ponte, que com um forte sprint final ganhou quatro posições, mas chegou na sexta colocação com 55min19s6 Dessa forma o Brasil interrompe a sequência de pódios em revezamentos por equipes no Mundial (havia sido bronze em Barcelona-2013 e prata em Kazan-2015). Veja aqui o resultado completo da prova.
Resta agora apenas os 25 km para o término das disputas em águas abertas no Lago Balaton. As duas provas serão disputadas amanhã. Primeiro acontece a largada dos homens, que terão os brasileiros Allan do Carmo e Victor Colonese, e alguns minutos depois a partida das mulheres, com as brasileiras Ana Marcela Cunha e Betina Lorscheitter. Os franceses também estão em ação e depois das performances até aqui não podem ser descartados como candidatos ao pódio. A revolução francesa nas águas abertas ainda não terminou.
Por Guilherme Freitas