Desde 1968, ano em que os 200m livre foram introduzidos no programa olímpico, nenhum nadador conseguiu defender o título na prova, tanto no masculino quanto no feminino.
Se no feminino a atual campeã Alison Schmitt, dos Estados Unidos, não consta entre as favoritas, atrás de nomes como Sarah Sjostrom, Katie Ledecky e Missy Franklin, ao menos ela tem alguns meses de treinamento até a seletiva olímpica americana para ao menos ter a possibilidade de manter o título no Rio de Janeiro.
E tentar evitar o drama pelo qual está passando o francês Yannick Agnel, atual campeão olímpico no masculino.
Em uma seletiva francesa inusitada, os índices estabelecidos pela federação são tão fortes que, com três dias de competições, apenas um índice foi conquistado, com Coralie Balmy nos 400m livre, em 14 provas disputadas.
Pode ser consolo o fato de que provas fortes para os gauleses ainda estejam por vir, como 50 e 100m livre e 100m costas masculino.
No entanto, uma dessas provas fortes já aconteceu, com resultados dramáticos: os 200m livre.
Sem índices.
Com 1min46s06 como marca de qualificação, quem chegou mais perto foi Jeremy Stravius, com 1min46s18. Em segundo, Jordan Pothain com 1min46s81. Seguido do campeão olímpico Agnel, com 1min46s99.
Em teoria, pelo critério francês, ninguém nadaria a prova no Rio.
Mas é aí que as coisas começam a ficar complicadas.
A França levará ao menos quatro nadadores para o revezamento 4x200m livre. Como o índice A estabelecido pelo COI para a prova individual é de 1min47s97, os dois mais rápidos, por já estarem classificados pelo revezamento e por terem a marca mínima exigida pelo COI, provavelmente serão permitidos pela federação francesa para disputarem os 200m livre.
Ainda assim, Agnel não defenderia seu título. Mesmo tendo talvez terminado a prova na segunda colocação.
Ele não foi terceiro?
Explicação: o vídeo da prova mostra aparentemente Agnel chegando à frente de Pothain, especialmente na tomada sub-aquática. No entanto, o resultado no placar eletrônico mostrou o contrário. O treinador Lionel Horter fez um protesto, mas o resultado foi mantido.
Algumas teorias foram elaboradas, como a que Agnel não tocou a placa com força suficiente, ou que ele levantou a cabeça na hora da chegada fazendo seu braço descer e tocar a placa muito embaixo, ou as duas coisas combinadas.
O fato é que o vídeo não será usado para a decisão das colocações. Por isso, é muito improvável que as colocações se alterem, uma vez que o protesto foi negado.
A maior esperança de Agnel é que Jeremy Stravius se classifique nos 100m costas e, como campeão mundial em 2011 e vice em 2015, teria nessa prova maiores chances. A final olímpica dos 100m costas está marcada para poucos minutos após a final dos 200m livre, no dia 8 de agosto. Além disso, Stravius teria que nadar, no dia anterior, ambas as semifinais e a final do 4x100m livre, prova na qual ele é um dos prováveis integrantes da equipe francesa candidata ao ouro.
Por isso, com esse programa, Stravius provavelmente só teria a perder nadando os 200m livre. Desistindo da prova, abriria espaço para Agnel.
Ainda assim, a defesa do título olímpico parece improvável. Sua última boa performance foi o ouro no Mundial de 2013. Desde então, o melhor que fez foi nadar dois segundos e meio acima do tempo que lhe deu o ouro em 2012 (1min43s14). Ano passado, terminou o ano na oitava posição no ranking mundial.
Alguns defendem que, se ele estiver no Rio, será competitivo, pois é o campeão olímpico. O que não garante nada. Comparações surgiram entre ele e o australiano Kieren Perkins, quem em 1996 chegou desacreditado e ganhou os 1500m livre.
Mas Perkins havia chegado a Atlanta na segunda posição do ranking mundial. Com o tempo de hoje, Agnel está na nona colocação, e ainda com seletivas como japonesa, brasileira, chinesa e americana, entre outras, ainda a acontecer.
Depender da torcida para obter a vaga olímpica e superar as más performances dos últimos anos. Até a história está contra Yannick Agnel, em busca de ser o primeiro a defender o título olímpico nos 200m livre.
Contra tudo e contra todos, à espera de um milagre.
Por Daniel Takata