A natação em águas abertas é uma modalidade nova ou antiga? Parece que é fácil responder, mas não é. Como prática, com certeza é um dos esportes mais antigos do mundo e lembrando que no século retrasado, não haviam piscinas, ou seja, tudo era natação em águas abertas.
Como modalidade competitiva passou a ingressar na Federação Internacional de Natação (FINA) na década de 90 e a partir de 2008, passou a ser uma modalidade olímpica. No que se refere a competição, com a presença de estrelas da natação mundial e atenção mais profissional das próprias federações, é uma modalidade relativamente nova. Uma característica marcante da maioria das provas é que as decisões de inúmeras disputas são concretizadas nos metros finais, decidida nos centésimos e com a necessidade do “photo finisher”.
Como sabem, a natação em águas abertas é aquela que é praticada em qualquer ambiente que não seja uma piscina. Quando a prova é realizar no mar, como foi o caso dos Jogos do Rio-2016, na Praia de Copacabana, as influências climáticas apresentam maior interferência na prova. Quando o evento é realizado em água lisa e “parada”, como foi o caso de Londres-2012 ou Tóquio-2020, as influências climáticas são menores.

Sendo assim, podemos até considerar que o percurso de sete de voltas de 1.433 metros dos Jogos de Tóquio, eram na verdade uma “enorme piscina”. Exageros a parte, todos sabiam que as influências climáticas seriam mínimas. Assim, o atual campeão mundial dos 10 km e também da prova de 1500m livre na piscina, o alemão Florian Wellbrock, resolveu inovar.
Já na largada, tomou a liderança e abriu dos adversários. Com trabalho de perna de seis tempos para cada ciclo de braçada, o alemão terminou a primeira volta com quase três corpos de vantagem sobre o segundo e terceiro colocado, respectivamente o francês Marc-Antoine Olivier e o húngaro Kristof Rasovsky, sendo que o pelotão de atletas a partir da quarta colocação, mal era visto pelas câmeras de TV, quando colocada na posição frontal.
Como o desenrolar da prova, por brevíssimos momentos, o francês e o húngaro chegaram a liderar a prova, mas por questão de segundos. A verdade é que Wellbrock quase sempre impôs um ritmo absurdamente forte. Uma informação importante da prova é que o pelotão de trás foi se fragmentado e a tão comentada “esteira” foi perdendo eficiência para este grupo. Pior foi para o consagrado nadador da Itália, Gregorio Paltrinieri, que estava no pelotão de trás e teve que gastar toda sua energia para sair da quarta colocação com 33 segundo atrás do líder e encostar no grupo de elite.

Um esforço nobre que só um atleta como ele conseguiria (lembrando que o italiano é campeão olímpico dos 1500m livre dos Jogos do Rio-2016). Voltando a atenção para Wellbrock, a cada volta parecia ter um controle cada vez maior sobre a prova. Ele hidratou em todas as voltas, menos na última, onde começou a abrir ainda mais dos adversários.
Vale lembrar que a temperatura da agua estava 29º C, o que é muito quente para os padrões da natação. Tem que estar muito seguro, para abrir mão da hidratação. Quem estava acompanhando a prova conseguia imaginar que seria muito difícil o alemão perder o título já na metade da prova. E não deu outra, o alemão abriu ainda mais dos adversários para chegar ao seu primeiro título olímpico.
Ao final dos 10 km, marcou 148min33s70, chegando 25,3 segundos a frente de Rasovosky e 27,4 segundos de Paltrinieri, que ficaram com medalha de prata e bronze, respectivamente.

No ano de 2012, o tunisiano Oussama Mellouli também venceu a maratona aquática com considerável vantagem, mas não iniciou como líder. O que o alemão fez foi acreditar desde o primeiro metro. Ao final, conseguiu a impressionante media de 1mins04s a cada 100 metros. Podem acreditar que a partir da próxima edição de Campeonato Mundial, caso as condições sejam de “água lisa”, muitos passarão a forçar o ritmo já na largada da prova.
Florian Wellbrock havia conquistado a medalha de bronze nos 1500m livre nestes Jogos de Tóquio, feito nobre, mas ao mesmo tempo frustrante, pois estava preparado para a medalha de ouro. Com o resultado na maratona aquática, faz história para seu país, já que a natação masculina da Alemanha não ganhava uma medalha de ouro olímpica desde dos Jogos de Seul-1998 com o lendário Michael Gross.