Ao término do Campeonato Mundial de Kazan, a cobertura jornalística demonstrou resultados não satisfatórios no que se refere a performance da seleção brasileira de natação. Diversos pontos foram levantados: o país não ganhou medalha de ouro, Cesar Cielo abandonou o evento, atleta brasileiro ainda valoriza os Jogos Pan-Americanos. Pior do que isso, grande maioria de internautas também julgam como fracasso o resultado do Brasil em Kazan e na programação para os Jogos do Rio de Janeiro 2016.
Sendo sincero, eu li e escutei grandes absurdos na ultima semana, artigos que beiravam ignorância. Para uma análise critica, antes de mais nada, é necessário analisar todas as medalhas conquistadas nas piscinas de Kazan. O quadro de medalhas nunca esteve tão diversificado e não existe uma hegemonia suprema, confira:
Estados Unidos: o time norte-americanos fez uma apresentação vergonhosa. No masculino, apenas uma única medalha de ouro individual, a do veterano Ryan Lochte nos 200m medley. Para piorar, no revezamento 4x100m livre, sequer classificaram para a final. No feminino, a situação não foi melhor e infelizmente vivenciamos a queda de rendimento da sempre simpática Missy Franklin. O que salvou os EUA literalmente, foram os resultados individuais de Katie Ledecky que conquistou cinco medalhas de ouro.
Resumo da cobertura jornalista dos norte-americanos: Estados Unidos vencem o quadro de medalhas, a performance não foi a esperada, mas Katie Ledecky faz historia em Kazan e ainda Michael Phelps em Campeonato Norte-americano escabele as três melhores marcas do mundo nas provas de 100m e 200m borboleta e 200m medley.
Austrália: O país teve uma apresentação medíocre da maior estrela do último ano: Mack Horton. O nadador de longa distância chegou a ser cotado como favorito a medalha de ouro nos 400m, 800m e 1500m livre e no evento acabou chegando apenas a uma única final. Para piorar, o revezamento 4x100m livre , considerado melhor do mundo, não chegou entre os 12 primeiros colocados, ou seja, não conseguiu sequer a vaga olímpica. Inadmissível.
Resumo da cobertura jornalística dos australianos: Emily Seebohm é a nova rainha mundial dos 100m e 200m costas, destronando Missy Franklin. O jovem Mitchell Larkin, vence os 100m e 200m costas no masculino e é favorito para os Jogos do Rio de Janeiro em 2016.
Japão: considerado por muitos como um exemplo a ser seguido. A natação japonesa foi vergonhosa, entre os homens. Das 48 medalhas em disputa na piscinas , conquistaram apenas uma: ouro nos 400m medley com Daiya Seto. Mesmo com a ausência de Kosuke Hagino, a performance japonesa foi deprimente.
Eu não falo japonês, mas converso em inglês com alguns nadadores do sol nascente. Resumo da cobertura jornalística dos japoneses: Daiya Seto supera mal rendimento e torna-se bicampeão mundial dos 400m medley, Kanoko Watanabe, mantem a tradição japonês no nado peito e vence os 200 metros.
Brasil: nossos nadadores fizeram uma apresentação espetacular no Pan-Americano de Toronto. Todos sabem disso e em apenas um semana de intervalo, tiveram que representar o país em Kazan. Não importa a periodização, mesmo sendo focada no mundial da Fina, é quase desumano sair de um evento de cinco dias de eliminatórias e finais em Toronto, viajar para casa e depois viajar para a Rússia para mais oito dias de competição. A jornada pesou nos ombros dos nadadores. Mesmo assim, o Brasil foi bem. Comparando novamente laranja com laranja. Sabemos a qualidade de Leonardo de Deus, Felipe França, João de Lucca e Etiene Medeiros e era nítido que não mantiveram o rendimento. Basta comparar os tempos de Toronto com Kazan e teríamos os resultados desejados. Mesmo assim o Brasileiro precisa ser positivo.
Cobertura de mídia desejada para o Brasil
Thiago Pereira: após se tornar o maio vencedor da historia em Jogos Pan-Americanos, aos 30 anos de idade, o veterano conquista sua melhor posição em campeonatos mundiais em toda sua carreira. Prata na sua melhor prova, os 200m medley.
Bruno Fratus: depois de uma “bola na trave” no revezamento 4x100m livre, o velocista conquista sua primeira medalha em campeonato mundial e mantem a tradição brasileira em provas de velocidade. Bronze nos 50m livre.
Nicholas Santos: o veterano de 35 anos faz historia em Kazan ao se tornar o nadador mais velho a conquistar uma medalha em campeonatos mundiais. O atleta é exemplo na longevidade da natação em alta performance.
Etiene Medeiros: a nadadora passa a ser a primeira medalhista em campeonato mundial na natação nacional. Superando seu próprio recorde sul-americano, para conquistar a honrada medalha de prata.
Minha mensagem é para paramos de sermos negativos. Basta! Precisamos olhar e valorizar os pontos positivos. Não estou falando para “maquiar” qualquer resultado, mas quem entende de natação sabe que fizemos uma apresentação respeitável em 2015 e que as lideranças do Head Coach masculino Alberto Pinto e do Head Coach feminino Fernando Vanzella, são dignas de admiração e respeito. Ao analisar os três países mais estáveis no mundo na natação (EUA, Japão e Austrália) e comparar laranja com laranja, identificamos que seus resultados são uma “onda senoidal”. O Brasil teve uma apresentação admirável em 2015 e está prestes a fazer o que pode oferecer: seu melhor resultado na natação numa edição de Jogos Olímpicos.
Por Patrick Winkler