Canoas é a maior cidade da Região Metropolitana da capital gaúcha Porto Alegre. Foi lá, neste munícipio de mais de 300 mil habitantes que aquele garoto magrinho fazia natação numa escolinha local. O irmão também nadava, mas começou a se destacar mais na prática do remo.
Ainda adolescentes, o irmão vai remar no clube da capital, o Grêmio Náutico União, enquanto Fernando Scheffer o vai junto, vai fazer parte da equipe de natação. Se existe algo que sempre esteve presente na carreira de Scheffer foi dedicação aos treinos, isso ele faz bem desde a base.
Os grandes resultados demoraram para acontecer, mas quando começaram não pararam mais. No Troféu Open 2013, o treinador principal do Grêmio Náutico União, Cristiano Klaser me chama a atenção para assistir uma prova. O jovem nadador de 15 anos iria nadar um 200m livre. O tempo de 1min57s09, era razoável para um garoto de 15 anos, mas a forma de nadar confirmava a boa expectativa do técnico Kiko.

Boas provas no Chico Piscina, nos Brasileiros de categoria, algumas medalhas, nenhum título. Em 2015, com 17 anos, Scheffer ficou em quarto lugar no Troféu José Finkel. Neste mesmo ano conquista seus dois primeiros títulos nacionais no Julio de Lamare de Vitória.
O ano seguinte é determinante na carreira de Scheffer. Primeiro vence a final B da Seletiva Olímpica do Rio-2016 com 1min50s27. Nadou animado ao ver na série A seu companheiro de treino André Pereira garantir uma vaga no Time Brasil.
Neste mesmo ano, conquistou seu primeiro título absoluto. Uma zebra, campeão do Finkel de Santos com 1min43s39 na curta batendo três integrantes do revezamento olímpico 4×200 do Rio: Nicolas Oliveira, Luiz Altamir e André Pereira. Isso lhe dava o passaporte para sua primeira grande experiência internacional, estava no time do Mundial de Curta, em Windsor no Canadá. Lá, foram três provas, todas sem passar das eliminatórias, nos 100m, 200m e 400m livre.

A mudança para o Minas Tênis Clube deu outro grande passo na sua carreira. Scheffer já era uma grande promessa, virou uma estrela nacional. Em 2018, Scheffer faz parte da Seleção Júnior que vai para os Jogos ODESUR em Cochabamba, depois Pan Pacífico, onde fica em quarto lugar nos 200m livre, e a consagração no final do ano, o Mundial de Curta.
Scheffer é o segundo nadador do Brasil do revezamento 4x200m livre que conquista o título e bate o recorde mundial em Hanghzou, na China. É no seu parcial que o país toma a liderança da prova que acabamos por vencer com 6min46s81.
Aliás, nadar revezamentos tem sido uma das belas características de Scheffer. No Troféu Brasil de 2018, ele fez um parcial absurdo de 1min44s84 para o Minas Tênis Clube vencer a prova e quebrar o recorde de campeonato. Na época, a Best Swimming fez um artigo destacando a performance espetacular que lhe daria vaga em qualquer revezamento medalhista de campeonato mundial ou olimpíada clique aqui para ler.

Nove centésimos separaram Scheffer no bom 200m livre que ele fez de chegar a final do seu primeiro Campeonato Mundial de Longa em Gwangju, em 2019. Nadou ainda o revezamento 4x200m livre ficando em sétimo lugar classificando a equipe para Tóquio.
Faltava a vaga individual que veio na Seletiva onde chegou perto dos 400m, mas confirmou nos 200m livre. Aliás, ele até nada bem os 400m livre, mas a ordem das provas nas disputas internacionais não ajuda no programa. Scheffer gosta mesmo é dos 200m livre!
Em Tóquio, Scheffer mudou um pouco a sua estratégia. Nadou desde as eliminatórias um ritmo mais forte, mais agressivo, em busca do resultado espetacular. E veio! Se classifica para a semifinal com a segunda melhor marca e novo recorde sul-americano de 1min45s05.

A semifinal é mais dura, mais nervosa. Scheffer termina em terceiro na primeira série semifinal e oitavo no geral com 1min45s71. Por três centésimos ele não fica de fora.
O tal dos 200m livre masculino virou uma prova enigmática a nível mundial estes últimos anos. Uma espécie de “Terra de Ninguém”, sem dono definido, onde novos nomes e postulantes foram aparecendo. Scheffer virou um deles. A final estava aberta, era o que todo mundo falava, era o que Scheffer sabia.
A raia 8 não era o problema, e sim, uma oportunidade. Nos primeiros 50 metros, Scheffer vira em quarto, 24s24, meio segundo abaixo do parcial do recorde sul-americano das eliminatórias. Nos 100 metros, 50s25, um segundo abaixo do parcial do recorde agora na segunda posição. Manteve o segundo lugar para virar os 150 metros com 1min17s28, oito décimos abaixo do ritmo de recorde. No final, 1min44s66, terceiro lugar, o Brasil voltava a subir ao pódio da natação olímpica.

Na piscina, não tínhamos esta alegria desde o bronze de Cesar Cielo nos 50m livre de Londres em 2012 e era a segunda vez que o Brasil era medalha nos 200m livre olímpico repetindo Gustavo Borges que foi prata em Atlanta-1996.
Scheffer ainda é carinhosamente chamado pelos amigos gaúchos de Monet. O apelido é uma brincadeira de uma confusão.