No final de semana a nadadora trans Lia Thomas competiu e venceu as três provas que participou na Conferência Universitária Ivy League, todas as três com novo recorde da piscina da Universidade de Harvard onde aconteceu a competição e duas delas com novos recordes da competição.
A controvérsia da participação dos atletas trans ainda vai seguir, pelo menos, até a disputa do Campeonato Nacional Universitário da Divisão I, competição que acontece de 16 a 19 de março, na piscina da Georgia Tech University, em Atlanta. Thomas está classificada e é favorita para vencer pelo menos duas de suas três provas.
Thomas nasceu William Thomas e durante o ano da Pandemia decidiu fazer a transição para o sexo feminino se submetendo ao tratamento de diminuição da testosterona. Segundo a antiga recomendação do NCAA que era similar a orientação do COI, Thomas precisaria de um ano completo com o nível de testosterona abaixo do limite de 10nm/l. Coisa que ela cumpriu e disputou toda a temporada universitária deste ano pela Universidade da Pennsylvania.
Com a dimensão de seus resultados, Thomas passou a ganhar destaque na imprensa americana. O nadador de nível médio da equipe masculina se tornou no maior destaque do time feminino desta temporada.
A controvérsia ganhou imenso espaço na mídia e obrigou ao NCAA rever suas regras. A pressão foi enorme, quase que inevitável para algum tipo de resposta. Foi assim que no mês passado a entidade determinou que os limites e regulamentos para os atletas trans deverão seguir a orientação das federações internacionais ou nacionais dos respectivos esportes.
No caso, seria a FINA ou a USA Swimming que deveriam determinar a elegibilidade ou não de Lia Thomas e outros atletas trans na natação universitária. Enquanto a FINA ainda prepara uma regulamentação que está em andamento, e ainda não tem data para ser anunciada, a USA Swimming publicou no início do mês uma nova regra. Um limite menor do nível de testosterona, de 10 para 5nml/l e num período maior, de 12 para 36 meses de controle.
Ao fazer uma nova regra, em meio a uma temporada em disputa, ou muito próximo do seu final, e sem a possibilidade de uma avaliação retroativa para o caso de Thomas, o NCAA decidiu rejeitar a regra da USA Swimming. O uso do nível de testosterona como elemento regulador também é muito contestado por alguns especialistas, que indicam vários outros fatores biológicos também deveriam ser considerados. Uma das sugestões é determinar uma idade limite para a transição do atleta, impedindo o desenvolvimento maturacional do indivíduo por completo no novo gênero.
Com o aval do NCAA, suporte da Universidade da Pennsylvania e da Conferência Ivy League, Lia Thomas está classificada para o Campeonato da Divisão I deste ano em três provas. Em duas delas, as 200 e 500 jardas livre aparece com o melhor tempo da temporada. Nos 100 livre, Thomas é a 11ª colocada.
Sua melhor prova é os 200 livre. Tem 1min41s93 mas ainda está distante pouco mais de dois segundos do recorde do NCAA de Missy Franklin 1min39s10 desde 2015. Nos 500 livre, Thomas tem 4min34s06 e aqui são 10 segundos atrás da marca recorde de Katie Ledecky na sua época de Stanford.
Ainda temos mais uma semana de Conferências e alguns torneios de “última chance” para obtenção de índices para o NCAA. Porém é inevitável indicar que Lia Thomas vai estar em Atlanta e com grandes chances de vencer.
Nada contra o Swim Channel (pelo contrário, gosto muito desse canal). Mas notícias como essa me fazem pensar que a humanidade está indo numa direção muito errada.
“O nadador de nível médio da equipe masculina se tornou no maior destaque do time feminino desta temporada.”
Essa ação é milhões de vezes mais “desinclusão” do que inclusão. Ao permitir que uma atleta trans compita lado a lado com mulheres que nasceram mulheres, “desinclui” as mulheres que nasceram mulheres.
Qualquer um tem o direto de ter sua opção sexual e ninguém pode agir de maneira discriminada. Isso é ponto pacífico! Mas numa sociedade, a liberdade de um termina quando começa a liberdade de outro. Uma atleta trans competir ao lado de mulheres que nasceram mulheres tolhe a liberdade dessas mulheres que nasceram mulheres. Torna desleal a competição.
É o que acontece neste caso, é o que acontece com a Tiffany do vôlei, é o que acontece com ciclistas e é o que acontece em todos os esportes que dependem de força física.
A Lia Thomas se tornou mulher durante a pandemia. Seu corpo se desenvolveu como um corpo de homem. Se os corpos de homens e mulheres fossem iguais, os recordes masculinos e femininos seriam iguais.
Juro que não consigo entender quem defende uma mulher trans competindo (em qualquer esporte) contra mulheres que nasceram mulheres.