Por Thiago Medeiros Rodriguez *
A natação em águas abertas é um esporte em franco crescimento, prova disso é o número crescente de competições da modalidade. Como todo esporte existem lesões que são mais frequentes entre os participantes. Mas será que o nadador de águas abertas corre um risco maior de sofrer lesões do que os nadadores de piscina?
Condições ambientais como temperatura da água/ar, qualidade da água e fauna e flora aquática criam o aspecto mais único da natação em águas abertas, escondendo potenciais lesões. A má qualidade da água pode resultar em doenças gastrointestinais. Isso pode causar desidratação, especialmente devido à incapacidade dos atletas de se hidratarem frequentemente durante as provas. Outro fator é a exposição a animais (por exemplo, águas-vivas, raias, peixes, tubarões, golfinhos, focas, cobras) que eventualmente pode ser problemática. Como os nadadores ficam na água por longos períodos, a prevenção de irritações e fricção da pele é importante.Por fim, a exaustão e a fadiga podem agravar condições médicas pré-existentes, isso pode ser notado tanto em nadadores recreativos
quanto em nadadores de elite.
Além disso, a maratona aquática, com algumas competições superiores a 25 km, acrescenta condições fisiológicas extremas que podem afetar os competidores. Com o treinamento, a maioria dos nadadores de águas abertas realizam treinos de longa distância, aumentando também o potencial de lesões por uso excessivo.
Por último, a equipe e o nadador dependem de treinamento e apoio na prova. Na maioria da provas em águas abertas, o nadador fica a alguma distância dos treinadores e do pessoal médico em terra, por isso comunicação entre o atleta, o técnico e a equipe de apoio geralmente é mínima.
A chave para fornecer cuidados médicos ideais em treinamentos e competições em águas abertas incluem o planejamento da temperatura, corrente e outras condições da água, bem como ameaças endêmicas. Isso pode incluir o fornecimento de hidratação durante o percurso, como por meio de suportes de barco. Preparar, informar e executar uma resposta médica e um plano de evacuação são fundamentais.
Para terminar vou contar uma história que aconteceu comigo. Em 2017 participei pela primeira vez da Travessia 14 Bis. Perto do oitavo quilômetro da prova senti uma fisgada na região do punho direito. No primeiro momento pensei se tratar de uma água viva, mas quando olhei para o lado havia um peixe (morto) enroscado no meu braço. Precisei abandonar a prova e receber atendimento médico para retirar o ferrão do peixe que havia penetrado na minha pele. Foi bastante assustador, mas com certeza a frustração por não poder seguir na prova foi maior. Felizmente em 2019 participei novamente da prova, desta vez sem contratempos. A lição que ficou de tudo isso é que a natação em águas abertas é um esporte sujeito a diversos fatores da natureza, ventos, chuva, correntes, temperatura da água e encontros inusitados com animais. Tudo isso faz parte do desafio do esporte e
adiciona um ingrediente a mais no desafio.
* Thiago Medeiros Rodriguez é fisioterapeuta, nadador e treina atualmente com a equipe Samir Barel Assessoria Aquática